Verme: Um grito contra a violência militar

Verme é um relato autobiográfico sobre as experiências traumáticas no serviço militar.

Verme é uma criação dramatúrgica de Luiz Campos, um dos fundadores do coletivo, que leva ao palco um relato documental de autoficção, baseado em suas experiências durante os sete anos em que esteve no militarismo. O enredo expõe as agressões, os traumas e as injustiças que presenciou e sofreu, contrastando essas vivências com a pureza e a inocência de sua infância. Verme é uma ferida aberta, um desabafo necessário, um grito do autor que precisa ser ouvido.

A produção é assinada pela Cia. Los Puercos, conhecida pelo compromisso com o teatro engajado e crítico, realizado na capital. O elenco é composto por Eluane Fagundes, Felipe Lima, Giovanna Marcomini e Luiz Campos. A montagem chega à cena em um momento propício, quando discutir o militarismo em nossa sociedade é urgente. Verme é apresentado sob uma perspectiva humana e crítica para provocar o expectador a refletir sobre os mecanismos de formação e atuação dessas instituições e sobre a importância de debater o assunto.

Luiz Campos, autor e ator de Verme, interpretando sua própria história
Foto: Arô Ribeiro.

O enredo desta autoficção se constrói como retalhos de memórias do autor que são alinhavados pelo jogo teatral. As passagens duras do treinamento militar, ornado não raramente pela humilhação, a brutalidade, a disciplina e a prática autoritária contrastam com o sonho do menino que alimentava a visão fantasiosa do quartel, e queria ser soldado, afinal o avô e o irmão ostentavam a alcunha de serem militares. Os momentos lúdicos do garoto na escola, as brincadeiras com os amigos, as travessuras que quebravam a rotina da casa e da rua são respiros na encenação. As abordagens irregulares, a conivência ativa e passiva com práticas questionáveis, a autopunição imposta pela corporação e a obediência inconteste são fatos que Luiz Campos traz não apenas como forma de denúncia, mas ainda como artifício de libertação.

O Autor revela que a frustração o levou a procurar por uma outra paixão, o teatro, e o levou a abandonar a carreira. “Comecei a fazer faculdade de teatro enquanto ainda era soldado da PM, mas não revelava qual era a minha profissão, por vergonha”, confessa. Durante a pandemia, em uma oficina online com o diretor, ator e dramaturgo Nelson Baskerville, surgiu o desafio de criar uma encenação de autoficção para integrar uma mostra. “A carreira militar era uma ferida aberta que me fazia sofrer, não só pelo que vivi, mas também pelo que me calei. No teatro, eu me senti seguro e acolhido para revelar minha história. Foi libertador, foi a forma que encontrei para me perdoar. Também é um desabafo”.

Luiz Campos, autor e ator de Verme, interpretando sua própria história
Foto: Arô Ribeiro.

Segundo a diretora Nathalia Nigro (que é a primeira mulher a assinar uma direção na Cia. Los Puercos), a encenação – concebida no formato de arena – lança mão de poucos elementos e objetos de cena para alternar os momentos de infância e de vida no quartel, como praticáveis, estruturas de ferro, fotos em painéis e tecidos. Depoimentos reais da mãe de Luiz Campos e de um ex-soldado compõem o espetáculo. “A iluminação pontua os momentos de aconchego e de rigidez. E o trabalho corporal elucida a força e o lúdico contidos no enredo”. O figurino básico lembra um uniforme, reportando à disciplina e à obediência. “Trabalhamos com cores básicas, o preto, o vermelho, o cinza e o verde-soldado para contar esta história, na qual a arte e o teatro têm papel de redenção do nosso autor/ator, finaliza a diretora.

FICHA TÉCNICA – Texto: Luiz Campos. Direção: Nathalia Nigro. Elenco: Felipe Lima, Eluane Fagundes, Giovanna Marcomini e Luiz Campos. Produção executiva: Sara Guimarães. Assistência de direção: Clarice Ambrozio. Dramaturgia corporal: Giovanna Marcomini. Cenário e figurino: Eluane Fagundes. Concepção de iluminação: Plinio Flima. Concepção de som: Pedro das Oliveiras. Provocação dramatúrgica: Nelson Baskerville e Alexandre Mate. Arte gráfica: Giovanna Marcomini. Fotos: Arô Ribeiro. Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação. Idealização, realização e produção: Cia. Los Puercos. Projeto contemplado: 42ª Edição do Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo. Estreia oficial: 29/8/2024 (Teatro Arthur Azevedo).

VERME

Luiz Campos, autor e ator de Verme, interpretando sua própria história
Foto: Arô Ribeiro.

Temporada: De 07 a 24 de Novembro
Horários: Quinta a Sábado, às 21h | Domingos, às 19h
Local: Avenida Adolfo Pinheiro, 765 – Santo Amaro
Ingressos: Gratuitos | Retirar na bilheteria 1 hora antes das apresentações.
Duração: 70 minutos
Classificação: 16 anos
Capacidade: 467 lugares
Acessibilidade

Sessões com intérprete de Libras: Quintas e domingos
Sessão com audiodescrição: 23 de Novembro (sábado)

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Tadeu Ramos

Social Media e criador de conteúdo. Compartilho aqui conteúdos culturais, com destaque para a comunidade LGBTQIAPN+

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