Sob a direção e dramaturgia de Patrícia Teixeira, com colaboração das atrizes da Cia. Coexistir de Teatro, Um Tempo Chamado Yayá retrata a trajetória de Sebastiana de Mello Freire (1887-1961), conhecida como Dona Yayá. Herdeira de uma grande fortuna, Dona Yayá passou grande parte da vida confinada devido a condições psiquiátricas. No elenco, Alana Carvalho, Gabriela Pietro, Gislaine Mendes, Janaína dos Reis, Lia Xavier, Sandra Crobelatti, Silvia Fuller e Wash Peinado, interpretam diferentes fases da vida de Dona Yayá, incluindo personagens como sua madrinha, cuidadoras, enfermeiro e professor.
O sucesso do espetáculo resultou na abertura de sessões extras na Casa de Dona Yayá, que é o casarão preservado no centro de São Paulo, onde Dona Yayá viveu confinada e que ainda guarda memórias sobre seu o passado e seus reflexos culturais, além de três apresentações no Teatro Paulo Eiró.
Dona Yayá nasceu em 21 de janeiro de 1887 em uma família paulista aristocrática marcada por tragédias. Órfã desde os 13 anos, foi tutelada pelo Senador de São Paulo, Manuel Joaquim de Albuquerque Lins, e internada em um hospital psiquiátrico em 1919 devido a desequilíbrios emocionais. Posteriormente, recebeu tratamento em casa, onde viveu reclusa até sua morte em 1961.
A obra destaca a importância de discutir a doença mental considerando o contexto cultural e social, ressaltando o papel das mulheres na necessidade da transformação de estigmas e desigualdades.
“Entrar em contato com a história de Dona Yayá, é debruçar-se de forma crítica, cuidadosa e atenta sobre o que foi feito de fato com essa mulher. Na narrativa, explorar o patrimônio cultural é resistir. Narrar é resistir. Por meio do teatro, mediamos e compartilhamos questões relacionadas à história e memória da institucionalização, considerando como as questões de gênero se articulam com a loucura e não esquecermos que o manicômio é a forma na qual o estado se relaciona com a sociedade”, reflete Patrícia Teixeira.
Para a diretora, a luta por uma sociedade sem manicômios é uma luta por direitos humanos. “Estarmos diante da história de Dona Yayá é também estarmos diante de tantas Yayás no processo histórico que nos leva a compreender as estruturas a partir do conceito de gênero.
Tempos nos quais a mulher sempre foi rechaçada, cobrada, punida, desqualificada, diminuída, discriminada e abusada. Abordar esse tema é, ao mesmo tempo, denunciá-los e nos fazer refletir sobre a necessidade de interseccionar a discussão da saúde mental com as questões de gênero, classe e raça”, afirma.
A dramaturgia utiliza uma narrativa dividida em duas partes, alternando entre o presente e o passado de maneira não linear. No plano do presente, uma monitora guia o espectador por meio de uma exposição, apresentando a vida de Dona Yayá. Enquanto no segundo plano, mergulha no passado da protagonista, revisitando momentos significativos de sua infância, adolescência e idade adulta. “As memórias de Yayá podem se confundir com as nossas memórias e de tantas mulheres que tiveram seus sonhos, subjetividade, alma e corpo confinados e mortos”, explica a diretora.
Montagem itinerante
A narrativa da vida de Yayá é contada em diferentes ambientes da casa e do solarium, criando um paralelo entre os cômodos e a fragmentação de sua psique, em uma tentativa de reunir as partes de sua vida que foram desmembradas, com a esperança de reconstruir sua subjetividade.
Cada cômodo representa uma parte de sua memória, dividida em temas específicos: infância marcada por perdas, adolescência caracterizada pela solidão, e a fase adulta, explorada em duas vertentes – a busca pela liberdade e autonomia, a experiência da doença, o confinamento, a partir de um olhar sensível sobre o resgate da identidade de Yayá.
As cenas são apresentadas simultaneamente em cada cômodo, interligadas por tempos distintos. Ao mesmo tempo, uma monitora que está no tempo presente atua como narradora das memórias e da casa onde ficou confinada, propondo questionamentos sobre a história de Yayá e de tantas outras mulheres internadas em manicômios.”
“Um tempo Chamado Yayá” é uma produção apoiada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, por meio do Proac Edital 01/2023.
Ficha técnica:
Dramaturgia e Direção Geral: Patrícia Teixeira. Elenco: Alana Carvalho, Gabriela Pietro, Gislaine Mendes, Janaína Reis, Lia Xavier, Sandra Crobelatti, Silvia Fuller e Wash Peinado. Preparação Corporal: Gislaine Mendes. Preparação Vocal: Fernando Gabriel. Iluminação: Beato Ten Prenafeta. Figurinos e Adereços: Wilson Ranieri. Caracterizador: Beto França. Comunicação Digital: ho.ko Comunicação. Designer: Lucas Sancho. Direção de Produção: Amanda Leones. Produtor assistente: Ana Botelho. Fotografia: Beto Garavello. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Contabilidade: JRC Assessoria Contábil. Produção Administrativa: Luana Costa. Produção Geral: Versa Cultural. Apoio Cultural: Essências e Cia. Idealização: Cia. Coexistir. Realização: Somah e Governo do Estado de São Paulo.
UM TEMPO CHAMADO YAYÁ
Dias: 04, 05, 11, 12, 18 e 25 de Novembro
Horário: Segundas e Terças, às 20h
Local: R. Quatorze de Julho, 18 – Bela Vista
Ingressos: Gratuito | Reserve no Sympla
Duração: 90 min
Classificação: 14 anos
Teatro Paulo Eiró
Dias: 29 e 30 de Novembro | 01 de Dezembro
Horário: Sexta e Sábado, às 21h | Domingo, às 19h
Local: Av. Adolfo Pinheiro, 765 – Santo Amaro
Ingressos: Gratuito | Reserve aqui
Duração: 90 min
Classificação: 14 ano
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