Aproximando a Guerra de Tróia do universo gamer, Helena ou De quem são as mãos que fazem a guerra? foi idealizada a partir do conceito de uma encenação-game. Movida pela pergunta
“Qual a relação entre as mulheres e as guerras?”, a Cia Ato Reverso mergulhou no processo de criação de Helena ou De quem são as mãos que fazem a guerra?, obra que busca compreender por que hoje, no século XXI, ainda assistimos à execução de guerras civis e internacionais, e por quais razões pouco associamos a imagem feminina ao front, e as mulheres como idealizadoras e realizadoras da guerra. A peça, que fez apenas 5 apresentações no início do ano, é o terceiro espetáculo autoral integrante da Trilogia da Barbárie, iniciada com a obra Maria Inês ou o que você mata para sobreviver? (2013/2014), e seguida por Abigail Williams ou De onde surge o ódio? (2017/2019).
Com uma pesquisa teatral de 10 anos que se debruça sobre as temáticas de gênero, violência e misoginia na sociedade, a Cia Ato Reverso propõe com sua nova criação olhar para as perspectivas femininas nos campos de batalha. Para trazer à cena a experiência das mulheres diante da guerra, a obra As Troianas, de Eurípides, disparou o processo criativo, que se propôs a estudar as personagens Hécuba, Cassandra e Andrômaca, sobreviventes da guerra de Tróia, e, em especial, Helena, a mulher considerada responsável pelos horrores ali vividos. Aquela que antagonicamente é apresentada como objeto de desejo dos homens e de aversão das mulheres.
Com as lentes feministas de nosso tempo, ao olhar para a obra de Eurípides imediatamente abrimos o debate sobre a responsabilização do corpo feminino por atrocidades cometidas por homens ao longo da história. Além de ser responsabilizada, Helena carrega em si o imaginário de que a beleza feminina tem o poder de destruição sobre a humanidade. Com o desejo de atualizar as personagens clássicas e dialogar com outras abordagens que debatem a relação das mulheres com a guerra, também foram estudados, no processo criativo, o livro biográfico A guerra não tem rosto de mulher (1985), da escritora bielorussa Svetlana Aleksiévicth; a ficção As guerrilheiras (1969), da feminista Monique Wittig; e o documentário Curdistão, guerra de mulheres (2016), dirigido pela cineasta Mylène Sauloy.
Entre deusas, games e guerra, articulando olhares de diferentes épocas e estéticas, “Helena ou De quem são as mãos que fazem a guerra?” almeja abrir o convite para a reflexão a respeito das estruturas de poder que idealizam e promovem as guerras, e quais atos femininos podem ser feitos na contramão da violência patriarcal.
Aproximando a Guerra de Tróia do universo gamer, Helena ou De quem são as mãos que fazem a guerra?, foi idealizada a partir do conceito de uma encenação-game. Assim como no mito grego, a narrativa do espetáculo parte da disputa entre as deusas Afrodite, Atena e Hera. Porém, nesta montagem, as personagens são apresentadas como gamers influencers, que interagem no espetáculo por meio da projeção, como se estivessem realizando um streaming do jogo que disputam. Neste sentido, tudo o que acontece em cena (no plano terreno), é um desdobramento da tela do game das deusas!
Portanto, a dinâmica da encenação é formada pela interação de duas camadas: a do palco, no qual vemos o jogo acontecendo na cidade de Tróia devastada; e a do vídeo, que apresenta o Cyber Olimpo e a interface virtual do jogo. Assim, as deusas comandam a encenação, como se a guerra e a vida das personagens fossem regidas pelas dinâmicas do jogo. De tempos em tempos, seus rostos são projetados simulando o enquadramento de uma live, na qual elas interagem entre si e comentam sobre as disputas das personagens sobreviventes de Tróia.
Seguindo a estética do game, o espetáculo é composto pela projeção de animações pixeladas com os avatares das personagens Helena, Hécuba, Andrômaca, Cassandra e Menelau. Assim, a cada nova fase, vinhetas que anunciam as mudanças de fase da encenação/game são projetadas. Diante desta concepção, as áreas de trilha sonora, iluminação, vídeo, figurino e cenário pesquisaram para a composição da identidade do espetáculo referências estéticas dos videogames pixelados de 8 bits, construindo músicas e animações originais.
Ficha Técnica:
Direção geral e encenação: Nathália Bonilha |Dramaturgia: Nathália Bonilha e Cia Ato Reverso | Atuação: Bárbara Lins, Jamile Rai, Nathália Bonilha, Renato Mendes e Theodora Ribeiro | Atuação em vídeo: Diane Boda, Luiza Romão e Mayra Coelho |Preparação vocal: Isadora Titto | Assistente de direção, Preparação corporal e Visagismo: Lua Negrão | Cenário: Mauro Martorelli | Figurino: Magê Blanques | Iluminação: Robson Lima | Assistente de iluminação: Matheus Espessoto | Trilha sonora: Vinícius Motta | Roteiro Audiovisual: Nathália Bonilha | Direção de Arte: Tiago Stracci | Animação 2D e Edição de vídeo: Bruno Mehsey | Ilustração: Ana Lima e Tiago Stracci | Fotografia e Montagem dos vídeos: Bárbara Lins | Mixagem e Masterização do som: Vinícius Motta | Locução do vídeo: Rodolfo Morais| Designer gráfico: Tiago Stracci | Produção: Cícero Andrade e Paula Árvores | Operação de luz: Guilherme Pereira e Mauro Martorelli |Operação de som: Mariana Sibinel e Vinícius Motta | Criação e Operação da projeção: Guilherme Pereira e Letícia Pinto
HELENA OU DE QUEM SÃO AS MÃOS QUE FAZEM A GUERRA?
Temporada: De 17 a 27 de Outubro
Horário: Quintas, Sextas e Sábados, às 20h | Domingos, às 18h
Local: R. Ana Cintra, 213 – Campos Elíseos, São Paulo – SP
Ingressos: R$ 40,00 (inteira) | R$ 20,00 (meia) | R$ 15,00 (moradores da região) | Compre aqui
Capacidade: 68 lugares
Classificação: 14 anos
Duração 80 minutos
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