Dando continuidade à pesquisa sobre a violência que permeia as relações cotidianas, a DeSúbito Cia reestreia Raiva – nós temos um cão que morde, segunda parte da trilogia da autora sobre o tema. Com direção de Ricardo Henrique, e dramaturgia de Carla Zanini, que atua ao lado de Renata Gaspar, Georgette Fadel e Roberto Rezende, a temporada acontece no Galpão do Folias.
Escrita por Carla Zanini, dramaturga cofundadora do grupo, a peça inicia com duas irmãs, Inês e Mirella, artista e professora, donas de um novo espaço cultural, tentando enterrar uma cabeça após seu cão ter mordido acidentalmente uma criança. “A narrativa se desenrola com doses de humor e suspense. No início não sabemos a quem pertence aquela cabeça, que canta e onde a história irá nos levar. O patético, o desespero e o absurdo guiam as personagens que estão envolvidas nesse cordão de violência – metaforizado na raiva de um cão – que precisam destruir para recomeçar”, conta Carla.
Zanini e Renata Gaspar interpretam as irmãs, que, na tentativa frustrada de dar conta dos problemas da escola e manter o espaço cultural aberto, ainda precisam lidar com os inúmeros conflitos desencadeados após o acidente com o cão e a criança. E, adicionando uma camada extra de confusão, eventos surreais acontecem e outras personagens aparecem e assumem um tom mais “radical”, como Tia Gilda, vivida por Georgette Fadel, uma professora perseguida que planeja um ato revolucionário na escola onde trabalha. Soma-se ao elenco o ator Roberto Rezende, um oficial do controle de animais responsável por prender o cachorro, supostamente diagnosticado com Raiva.
“A violência cotidiana permeia as ações das personagens em diferentes graus, sejam como agentes ou vítimas. Essa personagem vivida pela Georgette, é uma professora cansada da violência sistêmica sofrida dentro e fora da sala de aula e que se sente violada pela forma como é tratada. Ela percebe uma onda perigosa que se aproxima na educação e quer reagir a isso, mesmo que de forma polêmica. ”, comenta a dramaturga.
Sobre a encenação
O espetáculo mistura elementos realistas e absurdos. As ações propostas pela dramaturgia não são encadeadas de maneira linear, em sua estrutura há diversos cortes que promovem deslocamentos na linha cronológica, mas tendo como elemento catalisador a situação do cachorro que mordeu a criança. A ação dramática avança conforme os conflitos e impasses das personagens se intensificam. A dramaturgia se desdobra e se aprofunda a partir de horizontes temáticos políticos e sociais, que enfatizam as contradições das personagens.
“O texto foi escrito em um tempo de violência e polarização extrema do país. Foi claro para todos nós, o quanto esse momento influenciou na violência privada de nossas vidas. Nossa sociedade é tão inflamável que qualquer um se sentindo contrariado, injustiçado, hostilizado, humilhado ou criticado pode explodir e responder na mesma moeda, mesmo entre amigos, familiares e vizinhos”, explica o diretor.
Neste sentido, a direção opta por uma sensação tensa ao confinar as personagens em uma única área deste espaço cultural. O cenógrafo Fernando Passetti criou um cômodo-depósito deste espaço cultural, bem “concreto e real”, onde acontecem todas as ações da peça, mas também com muita vazão para imagens absurdas e surreais que o texto evoca, facilitadas pelos vãos, texturas, cores e aterialidades propostas pelo cenógrafo. Colaborando com os contrastes da peça, a luz construída por Dimitri Luppi auxilia na atmosfera realista e delirante que permeia a história. Os figurinos de Muca Rangel e Ana Luiza Fay acentuam com força, realismo e humor os contornos e contradições de cada personagem. E a trilha e dramaturgia sonora de Mini Lamers que além de colaborar fortemente com o suspense, ruídos e tensões internas e externas de toda história, suas personagens e relações.
“Nos mantivemos bastante fiéis ao texto. E algo bem interessante na dramaturgia é que não vemos os acontecimentos em si. Na verdade, é tudo contado pelas personagens, que vão partilhando as informações e acontecimentos aos poucos. Com isso, os espectadores ganham um espaço amplo de imaginação, diante de um conflito imenso de uma história vivida mas principalmente narrada. Tudo isso potencializado pelo forte jogo e atuação do elenco ”, diz Ricardo.
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia: Carla Zanini
Direção: Ricardo Henrique
Assistência de direção: Lilian Regina
Elenco: Renata Gaspar, Georgette Fadel, Carla Zanini e Roberto Rezende
Cenografia: Fernando Passetti
Iluminação e operação: Dimitri Luppi
Assistência de iluminação: Leo Sousa
Figurino: Muca Rangel e Ana Luiza Fay
Sonoplastia: Mini Lamers
Operação de som: Igor Souza e Henrique Berrocal
Contrarregragem: Guira Bará
Preparação de elenco: Felipe Rocha
Provocação corporal: Rafaela Sahyoun
Identidade visual: Angela Ribeiro
Design gráfico: Guto Yamamoto
Foto: Caio Oviedo
Produção: Mariana Novais – Ventania Cultural
Realização: DeSúbito Cia e Ventania Cultural
Apoio: Galpão do Folias | Grupo Folias d’Arte
Temporada de estreia (Ago/2024)
Produção executiva: Julia Calegari
Stand in: Monalisa Silva
Aprendiz de iluminação: Laysla Loyse
Aprendiz de cenografia: Wesley Silva
Realização: PROAC 01/2023 | SESC SP
Apoio: IBT – Instituto Brasileiro de Teatro
RAIVA – NÓS TEMOS UM CÃO QUE MORDE
Temporada: De 07 a 22 de Dezembro
Horário: Sábados, às 20h | Domingos, às 19h
Local: R. Ana Cintra, 213 – Metrô Santa Cecília
Ingressos: R$ 40,00 (inteira) | R$ 20,00 (meia entrada) | Compre aqui
Duração: 75 min
Classificação: 14 anos
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