Montagem do Escaldapé Coletivo de Teatro aborda convivência e aceitação familiar com casal LGBTQIAPN+

"Quem Casa Quer Casa 4.0" atualiza comédia clássica de Martins Pena.

Está em cartaz no Teatro Paiol Cultural o espetáculo “Quem Casa Quer Casa 4.0”, primeira montagem do Escaldapé Coletivo de Teatro. A peça, uma adaptação coletiva da obra de Martins Pena com direção de Bryan Parasky e dramaturgia de Adriane Hintze, revisita o clássico da comédia brasileira Quem Casa Quer Casa sob uma ótica contemporânea, abordando os desafios da convivência familiar e relações LGBTQIAPN+.

A peça transporta os dilemas familiares da obra original para um contexto atual, explorando com humor as transformações nas dinâmicas familiares e sociais. Inspirado na Indústria 4.0 (também chamado de Quarta Revolução Industrial, o termo diz respeito à modernização das fábricas com tecnologias como inteligência artificial, robôs e internet das coisas), o texto reflete a influência da tecnologia, das redes sociais e das novas formas de relacionamento sem perder a essência cômica da história.

Elenco de "Quem Casa Quer Casa 4.0"
Foto: Julio Aracack

“A dramaturgia foi inspirada no texto de Martins Pena, mas passou por adaptações significativas para dialogar com questões contemporâneas. Mantivemos a premissa central, mas ajustamos o contexto para incluir os temas que o grupo queria abordar. Incorporamos elementos da tecnologia e discussões ligadas à comunidade LGBTQIAPN+, criando uma fusão entre a estrutura do clássico e as novas narrativas que trouxemos para a peça”, conta a dramaturga Adriane Hintze.

O diretor da peça, Bryan Parasky, complementa: “O grupo trabalhou com jogos de improvisação e diálogos sobre a contemporaneidade das relações, com ênfase na vivência LGBTQIAPN+. As cenas surgiram organicamente, permitindo que os atores explorassem os conflitos e nuances dessas relações. O processo revelou a necessidade de consolidar essa nova versão, o que nos levou a trazer uma dramaturga para lapidar o texto. Assim, transformamos a peça sem perder sua essência: o embate cômico entre sogra e nora, cada uma determinada a assumir o comando da casa”.

Elenco de "Quem Casa Quer Casa 4.0"
Foto: Julio Aracack

Na peça original, escrita em 1845, o dramaturgo carioca Martins Pena retrata uma família tradicional que vive conflitos quando um casal recém-casado precisa viver sob o mesmo teto dos pais. As disputas de espaço e poder entre gerações resultam em situações cômicas e reflexivas. Na versão 4.0, a trama ganha novos contornos ao retratar os desafios de aceitação e convivência familiar vividos por um um casal LGBTQIAPN+ composto por Sabrina, uma mulher cis, e Paulina, uma mulher trans.

“As personalidades das personagens originais serviram como alicerce para reescrevermos nossa história em um contexto atual. Mantivemos o embate central: a matriarca da família, dona da casa, confronta a nora recém-chegada, que também deseja ter voz ativa nesse lar. No entanto, ao contrário da versão original, nossa Paulina não enfrenta apenas as disputas cotidianas da convivência familiar, mas também o preconceito da sogra, que resiste em aceitar a nova configuração conjugal entre sua filha, Sabrina, e Paulina. Ainda assim, a peça preserva o tom farsesco e os conflitos domésticos característicos de Martins Pena, como uma homenagem ao mestre da comédia de costumes”, complementa o diretor.

Elenco de "Quem Casa Quer Casa 4.0"
Foto: Julio Aracack

A ambientação atualizada insere o enredo em um apartamento urbano moderno, refletindo as realidades das grandes cidades. Questões como o impacto da tecnologia, debates sobre identidade de gênero e conflitos intergeracionais são incorporadas à trama, ampliando sua relevância para o público.

“O embate entre nora e sogra continua sendo sobre poder, mas agora sob uma nova perspectiva: a disputa gira em torno da organização da festa de um ano de casamento da filha e da nora. Esse conflito se intensifica à medida que a sogra revela seu preconceito, expondo posturas homofóbicas e transfóbicas. Ela funciona como um reflexo de uma sociedade que ainda reproduz essas violências de forma estrutural. Com essa abordagem, queremos provocar reflexões sobre preconceito, intolerância e as dinâmicas familiares”, conclui a dramaturga.

Ficha técnica
Texto: Adaptação coletiva da obra de Martins Pena
Direção: Bryan Parasky
Dramaturgia: Adriane Hintze
Elenco: Camila Johann (Sabrina), Giovana T. S. (Fernanda), João Alves (Leonardo), Marc Pereira (Sebastião), Rafaela Gimenez (Paulina) e Sophia Dário (Eulália)

QUEM CASA QUER CASA 4.0

Elenco de "Quem Casa Quer Casa 4.0"
Foto: Julio Aracack

Temporada: De 8 a 30 de março
Horário: Sábados, às 21h | Domingos, às 20h
Local: R. Amaral Gurgel, 164 – Vila Buarque
Ingressos: R$ 50,00 (inteira) | R$ 25,00 (meia) | Compre aqui
Duração: 70 minutos
Classificação: 14 anos
Capacidade: 200 lugares

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Tadeu Ramos

Social Media e criador de conteúdo. Compartilho aqui conteúdos culturais, com destaque para a comunidade LGBTQIAPN+

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