Com direção de Marina Esteves e dramaturgia de Idylla Silmarovi e Lenise Oliveira, esta também responsável pela atuação, o espetáculo infantil indígena “Pa’ra – Rio de Memórias”, conflui as memórias de infância da atriz no Jurunas – uma das maiores periferias de Belém (PA) – com a cosmovisão de seu povo, os Sateré-Mawé.
Quando se mudou para São Paulo, em 2021, Lenise precisou lidar com várias formas de violência, como a discriminação social, a desvalorização dos seus saberes e um processo de “aculturação” forçada.

Por isso, “Pa’ra – rio de memórias” faz um resgate ancestral. Na trama, uma criança indígena chamada Dalú é obrigada a deixar o território do seu povo, em Mairi (Belém do Pará), e migrar com a mãe para a periferia de um grande centro urbano, Nhe’e ry (São Paulo). Nesse novo local, elas enfrentam muitos desafios, como o preconceito e a truculência policial.
Quando o pior acontece e a casa das duas é invadida, a menina clama por seus ancestrais e embarca em uma viagem em busca das riquezas do seu povo – tudo ao lado dos seus melhores amigos boldo, alecrim e capim cidreira. Nesse mundo, o rio das memórias, a protagonista escuta os conselhos da natureza, onde os vivos não se distanciam dos encantados e dos seus ensinamentos.
Sobre o espetáculo

“Pa’ra – rio de memórias” está estruturado em três eixos: infância, corpo e territorialidade. Segundo Lenise, o aspecto mais importante da montagem é debater os direitos das crianças indígenas no contexto urbano.
“A educação nas comunidades indígenas, por exemplo, deve ser bilíngue e intercultural, respeitando as tradições e os idiomas nativos. No entanto, o sistema educacional brasileiro, em muitos casos, falha em promover esse tipo de educação. O que resulta em um processo de alienação cultural, em que as crianças indígenas são forçadas a se adaptar a uma cultura dominante. Muitas precisam sair do território para estudar na cidade e enfrentam todo tipo de violência”, comenta a idealizadora.
Para dar conta dessas questões, as artistas fugiram dos estereótipos. Por isso, elementos como penas e pinturas corporais não foram incluídos na encenação.
O espetáculo combina a estética afro-minimalista, presente na pesquisa de Marina Esteves, com a imersão na cultura Sateré-Mawé e paraense, desenvolvida pela atriz e idealizadora Lenise Oliveira. Fugindo das representações coloniais dos povos originários, a direção adota uma paleta vibrante de vermelho, azul e marrom para compor a identidade visual da obra.
Na trama, Dalú embarca em uma jornada lúdica por um mundo imaginário, onde encontra seres que simbolizam figuras importantes para a população indígena, cada um carregando histórias e ensinamentos essenciais. “Partindo do conceito de ressignificação dos objetos, chegamos aos bancos de Pajé, que, ao longo da narrativa, se transformam em animais, guarda-chuvas, cidades e tudo o mais que precisarmos”, explica Marina.
A trilha sonora, criada exclusivamente para a obra, tem assinatura de Dani Nega. A musicista se inspirou nas sonoridades típicas do Pará. Dessa forma, a musicalidade Sateré-Mawé se mistura ao brega e ao techno brega das aparelhagens.

Por todos esses elementos, “Pa’ra – rio de memórias” também converte-se em um espaço de resistência cultural onde as tradições indígenas são celebradas e reimaginadas. Nesse processo, o público é convidado a refletir sobre suas próprias identidades em um mundo que frequentemente tenta apagá-las.
A peça é um desdobramento do projeto “Perspectivas Indígenas em Cena”, que foi contemplado pelo programa Funarte Retomada 2023 – Teatro, e contou com o apoio do Museu das Culturas Indígenas.
Ficha Técnica
Idealização e atuação: Lenise Oliveira
Direção geral: Marina Esteves
Diretora assistente: Roberta Araújo
Dramaturgia: Idylla Silmarovi e Lenise Oliveira
Orientação em dramaturgia: Marina Esteves
Orientação e pesquisa da etnia Sateré-Mawé e cultura paraense: Lenise Oliveira
Direção musical e trilha sonora original: Dani Nega
Música “Legado”, gentilmente cedida pela artista paraense e indígena tupinambá: Liège
Desenho de luz: Juliana Jesus
Direção de movimento: Marina Esteves e Key Sawao
Preparação corporal: Key Sawao
Concepção em coreografia: Marina Esteves
Preparação Vocal: Marisa Brito
Cenografia: Marília Piraju
Objetos e adereços: Marília Piraju, Abmael Henrique, Artzion
Pintura Artística: Vincent Guitox
Confecção Porantin: Cassio Omae
Cenotecnia: Giovanna Guadanholi e Andieli Gorci
Figurino: Ayomi Domenica
Assistente de figurino: Regina Torres
Costura: Jonhy Carlo
Operação de luz: Juliana Jesus
Operação de som: Dani Nega
Ilustrações do programa: Mara Carvalho
Fotografia de divulgação: Ethel Braga
Mídias sociais: Liège
Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques, Daniele Valério e Carina Bordalo
Produção geral: Tati Caltabiano e Lenise Oliveira
Produção jurídica: Corpo Rastreado
Apoio: Museu das Culturas Indígenas
Realização: Sesc São Paulo
PA’RA – RIO DE MEMÓRIAS

Temporada: De 15 de Março a 10 de Maio
Horário: Sábados, 11h. Local: Rua Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque Ingressos*: R$40,00 (inteira) | R$20,00 (meia) | R$12,00 (credencial plena) | Compre aqui
Capacidade: 280 lugares
Duração: 50 minutos
Classificação: Livre
Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida
*Dia 01 de Maio (feriado), a sessão será às 11h
**Crianças até 12 anos não pagam
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