O amanhã nunca chega, o hoje é cheio de incertezas, e o ontem já ficou para trás.
Nessa comédia, a trama gira em torno de “A” e “B”, uma dupla de vendedores de uma loja de departamentos. Entre uma venda e outra, ambos buscam uma forma de não virar ontem junto com tudo que os rodeiam.
Por meio de uma rebeldia existencial se recusam a perder a própria permanência para se
tornarem apenas sombras em um cotidiano cíclico. O hoje se torna vida e não tempo, e assim como na vida ambos festejam, brincam, se emocionam e compartilham sensações. Mas para subverter a ordem “natural” a que estão submetidos é preciso não deixar que “Eles” percebam.
O espetáculo aborda questões pertinentes ao nosso cotidiano, como a falta de expectativas, o desvanecer dos sonhos e a sensação de impotência diante da repetição constante da rotina, especialmente considerando os hábitos adquiridos durante o confinamento entre 2020 e 2022.
Uma história sobre o tempo e como ele nos devora. Tornando irrelevante tudo que deixou de existir para que pudesse prosseguir. Uma história sobre sonhos e como eles enfraquecem com o avançar da idade. Uma história sobre esperança e como ela nos mantém atentos até o último momento.
Cada vez mais torna-se parte do cotidiano de nossa sociedade, o diagnóstico de algum distúrbio psíquico. A precarização, a intensificação e a sobrecarga laboral com jornadas exaustivas, somadas à instabilidade na carreira e baixos salários fizeram com que a Síndrome de Burnout ganhasse um crescente destaque, sobretudo após os anos de enfrentamento da pandemia de COVID-19.
Com a exposição duradoura à uma rotina de trabalho estressante, o indivíduo pode demonstrar os mais variados sintomas como: dificuldade para se concentrar, agressividade, irritabilidade, isolamento, ansiedade, depressão, mudanças bruscas de humor, lapsos de memória, baixa autoestima, estresse crônico, fadiga extrema, pessimismo, sentimento constante de fracasso, dentre outros.
A dificuldade em seu diagnóstico aliada à falta de diálogo pode levar a diagnósticos equivocados de estresse, ansiedade ou síndrome do pânico. O espetáculo teatral – Não deixe que eles percebam – utiliza-se do subgênero da comédia do absurdo para debater os sintomas que levam à Síndrome de Burnout. Por meio deste subterfúgio buscamos lançar uma luz neste delicado assunto para que o debate possa ocorrer fora da sala de espetáculos. Desta forma, nos utilizamos da arte para discutir a sociedade diante do indivíduo para que este reconheça a própria realidade na qual está inserido.
Para Daniel Prata, “a ausência física de outras personagens revela a fragilidade de “A” e “B” que não possuem mais suporte de nada, nem de ninguém. Permanecem fugindo e reencontrando a si mesmos neste eterno percurso de terminar no ponto em que tudo começa e iniciar no momento que em tudo termina. A vida não para, prossegue de forma a repetir nossos erros, até que damos o passo que muda tudo. A partir do cotidiano a dramaturgia foi escrita, e isto bastaria para colocar as personagens em um ambiente danoso. Porém, este é um texto pandêmico que surge em um momento ímpar de catástrofe mundial no qual o autor percebe-se inserido em um ciclo sistêmico semelhante ao experenciado pelas personagens.
Uma dramaturgia infinita de uma completa e absoluta distopia real”. De acordo com Karina Scott, “a partir da ideia de um não lugar, a Loja Magazine Store se estabelece como ambiente no qual os acontecimentos se desenrolarão. Não se sabe em que tipo de ambiente se está, mas ao mesmo tempo é um local onde se vende de tudo, menos meias. A peculiaridade das exceções demonstra a ausência do conforto mínimo, meias, em meio a um universo de possibilidades. As meias aquecem nossa base, secam nossas ansiedades e amaciam os atritos entre pé e calçado. Logo, a ausência deste item coloca as personagens em constante fricção com suas tensões ao mesmo tempo em que promove o atrito em sua base e proporcionam o mal cheiro daquilo que está guardado e não deve ser revelado”.
Nesta encenação, a tensão se instaura em meio a uma monotonia inicial com a intenção de promover a quebra de expectativas a todo momento. De maneira que o público não consiga prever o que vem a seguir. A encenação convida o espectador a continuamente se desapegar do que já ocorreu, pois já virou ontem. Da mesma forma busca impossibilitar a previsibilidade do que virá, pois no hoje tudo é possível.
Se os sonhos viram ontem antes que possam ser hoje, a esperança é algo que não mais existe, assim como a saída do ciclo infinito que se instaura nesta encenação. Após uma pré-estreia em parceria com o Teatro Pandora (SP), uma temporada no Espaço de Provocação Cultural (SP) sob a direção artística de Diego Pallardo e a participação na primeira edição do MIACENA (Mostra Internacional de Artes Cênicas em Espaços Não Convencionais e Alternativos) (SP) sob a curadoria e idealização de André Acioli e Dani Angelotti, o espetáculo “Não deixe que ELES percebam fará uma curtíssima temporada no Teatro Studio Heleny Guariba na icônica Praça Roosevel.
De acordo com o diretor está pequena temporada contará com uma conversa após as apresentações e contará com uma recepção ao público que chega para assistir ao espetáculo. “Queremos inserir o público na inauguração da Loja Magazine Store, uma loja que vende tudo e ao mesmo tempo nada, na qual se vê tudo sem se ver nada. Um espetáculo novo até para quem já viu anteriormente”
Ficha técnica:
Dramaturgo e diretor: Daniel Prata
Cenógrafa e figurinista: Karina Scott
Produtora: Cissa Moreira
Operadora de luz e som: Thais Gracia
Elenco e concepção de luz: Karina Scott e Daniel Prata
Realização: Gurpo S.V. Lab. de Teatro
NÃO DEIXE QUE ELES PERCEBAM
Temporada: Dias 05 e 12 de Abril
Horário: Sábado, às 20h30
Local: Praça Roosevelt, 184, Consolação
Ingressos: R$ 50,00 (inteira) | R$ 25,00 (meia) | Compre aqui
PIX: Compre aqui
Acessibilidade: A Plateia possui acessibilidade
Siga o Canal Tadeu Ramos no Instagram
