“Você se imagina com 100 anos?” Essa é a primeira pergunta do espetáculo Monga, criado, interpretado e dirigido por Jéssica Teixeira, e a partir dela, a artista usa múltiplas ferramentas teatrais para, a um só tempo, propor um mergulho no passado, na história de Julia Pastrana (1834-1860), mexicana que ficou conhecida vulgarmente como mulher-macaco e se tornou uma das grandes inspirações para os Freak Shows espalhados pelo mundo, e questionar, por meio de sua própria história, os padrões de nosso imaginário.
Dando continuidade à pesquisa iniciada no seu primeiro solo, E.L.A, nesse novo trabalho, a artista segue fazendo do seu corpo a matéria bruta para a construção dramatúrgica, mas desta vez Jéssica usa o estranhamento como guia do roteiro. “A diferença principal entre as duas montagens é que a primeira era sobre o meu corpo e eu queria me comunicar muito com adolescentes. Já Monga é voltada ao público adulto e eu quero falar sobre o que há de mais invisível em mim, aquilo que eu desejo e acredito”, comenta.
Dessa forma, a partir da história da mexicana Julia Pastrana (1834-1960) – uma grande intérprete, cantora e bailarina, uma mulher poliglota e à frente do seu tempo, mas que ficou mundialmente conhecida apenas como “a mulher macaco” –, a performance Monga revisita o passado na tentativa de criar imaginários. “Eu não tenho a intenção de apresentar uma biografia dessa importante multiartista e nem reconstruir o número que a deixou famosa e foi adotado em tantos circos. Meu maior objetivo é aumentar as chances de futuros mais dignos de corpos como os nossos na sociedade, no mercado de trabalho, na arte e na indústria cultural”, acrescenta.
Dessa forma, ela evoca os 26 anos de vida de Julia em condições desumanas de trabalho como bailarina, performer e cantora, e seus 153 anos após morte, expondo a ganância e exploração do mercado da cultura e do entretenimento sobre seu corpo e sobre a sua arte.
Sobre a encenação
Para o cenário, a ideia da intérprete foi criar um ambiente semelhante a um estúdio de fotografia, onde elementos como luzes e tripés estão em movimento. Assim, a equipe técnica manipula todos esses aparatos bem as vistas do público. “Eu não queria usar simplesmente uma iluminação aérea característica do teatro. Então, em cena estão bastões de LED, um Ring Light e um grande Softbox, que dão um contorno muito bonito para o corpo”, comenta Jéssica.
Além disso, compõe a cena um elemento visual fundamental para a performance, um globo de espelhos. Segundo a artista, este item contribui para dar a noção de espetáculo ao trabalho. E, ampliando ainda mais a plasticidade das cenas, o chão carrega um elemento extra: um tipo de material cenográfico que simula espelhos quebrados, que transmitem a sensação de que a artista está andando sobre a água.
“Monga é um espetáculo feito a muitas mãos, com muita maestria e qualidade. Foram muitos anos de estudo, na verdade, uma vida inteira. Então, montamos essa performance da maneira como esta trajetória merece”, afirma Jéssica.
O jogo cênico se completa com a participação dos espectadores. Enquanto dança, canta e se movimenta no espaço, sempre nua, a artista faz perguntas para a plateia, como “Se eu tivesse medo do meu corpo, vocês ficariam mais à vontade?”.
Nesse espetáculo, Monga não corre atrás do público para capturar o que não consegue correr, o que cai ou o mais fraco. A multiartista devolve os olhares, espelhando e desnudando aqueles que assistem, trazendo à tona um terror psicológico com doses de riso nervoso e constrangimento.
Sobre a performer
Jéssica Teixeira é atriz, produtora, diretora e dramaturga. Graduada em Teatro – Licenciatura pela Universidade Federal do Ceará (2010-2013) e Mestre em Artes pelo Programa de Pós Graduação em Artes (2016-2018) também pela UFC. Trabalha com as artes da cena desde os 7 anos e, atualmente, faz do seu corpo estranho matéria prima da sua pesquisa que gerou seu primeiro solo “E.L.A” (2019), que segue circulando pelos principais festivais internacionais do Brasil e com passagem também por Istambul/Turquia.
FICHA TÉCNICA
Direção geral, dramaturgia e atuação: Jéssica Teixeira
Direção de arte e identidade visual: Chico Henrique
Direção musical: Luma
Direção técnica e iluminação: Jimmy Wong
Videoartista e operação de câmeras: Cecília Lucchesi
Montador e contrarregra: Aristides de Oliveira
Preparação Corporal: Castilho
Luz da primeira abertura de processo: Aline Rodrigues
Música do início: “Real Resiste”, de Arnaldo Antunes
Músico parceiro: Victor Lopse
Fotos oficiais: Camila Rios
Texto gravado: “Entre Fechaduras e Rinocerontes”, de Frei Betto
Produção: Rodrigo Fidelis, Gabs Ambròzia, Gabi Gonçalves e Corpo Rastreado
Criação: Catástrofe Produções e Corpo Rastreado
Agradecimentos:
Acauã Shereya, Andreia Duarte, Dinho Lima Flor, Daphne, Edgar, Edson Vogue, Edson Teixeira, Edu O, Fausto Morales, Gerson Greco, Guilherme Marques, Ivana Moura, João Barreto, Joaquina Carlos, Jorge Alencar, Luqueta, Marcio Piccoli Marta Pelucio, Neto Machado, Orlando Luiz Araujo, Pollyanna Diniz, Rodrigo Mercadante, Tainá Medina, Thiago Nascimento, Thomaz Aragão, Vera Carvalho, Victor Di Marco, Yasmin Gomes
MONGA
Temporada: Até 26 de Outubro*
Horário: Quinta a Sábado, às 20h | Domingos, às 18h
Local: Av. Paulista, 119 – Bela Vista
Ingressos: R$ 60,00 (inteira) | R$ 30,00 (meia-entrada) | R$ 18,00 (credencial plena) | Compre aqui
Classificação: 18 anos
Duração: 80 minutos
*Não haverá apresentação no dia 06 de Outubro Sessões extras nos dias 16 e 23 de Outubro, às 20h | Todas as sessões contam com Libras | Audiodescrição nos dias 17, 18, 19 e 20 de Outubro.
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