Com trabalhos apresentados em festivais nacionais e internacionais, Marta Soares, renomada dançarina, performer e coreógrafa, apresenta três espetáculos premiados dentro do projeto Feminino Informe. Esta mostra faz parte de sua trajetória de pesquisa artística desde 1995. A programação, que conta com o apoio do 35º Programa de Fomento à Dança, promove a circulação de quatro espetáculos em 24 apresentações, com ingressos gratuitos ou populares. Entre os destaques estão Les Poupées (Prêmio APCA 1996), Bondages (Prêmio Denilto Gomes 2017) e a estreia de Bondages em versão trio.
Cúpula do Theatro Municipal recebe Marta Soares e Cia
As apresentações ocorrerão na cúpula do Theatro Municipal de São Paulo, no oitavo pavimento, um salão circular que proporciona uma experiência imersiva. Marta Soares, com sua companhia que atua em São Paulo desde 1995, explora as interseções entre dança, artes visuais e performance, utilizando frequentemente o formato de “instalação coreográfica”. A programação inclui Les Poupées, Bondages em versão solo e trio, além de um encerramento especial com o premiado O Banho.
Obras investigam o inconsciente feminino e sua relação com o corpo
Os espetáculos apresentados no projeto Feminino Informe abordam questões femininas a partir dos conceitos de “inconsciente físico” e “informe”. A coreografia explora como os desejos inconscientes percorrem o corpo, em diálogo com as ideias do fotógrafo surrealista Hans Bellmer e do sociólogo Georges Bataille. Marta Soares e Cia. questionam os limites entre oposições categóricas, como dentro e fora, homem e mulher, vivo e morto, propondo uma reflexão sobre a condição do sujeito na contemporaneidade.
ESPETÁCULOS
“Les Poupées”
Concebido, dirigido e interpretado por Marta Soares, o solo de dança “Les Poupées” tem como ponto de partida as fotografias de bonecas realizadas pelo fotógrafo surrealista alemão Hans Bellmer que foi influenciado pelos contos de E.T.A. Hoffman, em especial pelo conto “O Homem de Areia” que deu origem ao ballet Copélia, pelos movimentos dadaísta e surrealista e pelos experimentos psicanalíticos realizados no início do século XX por Charcot e Freud com pacientes histéricas. Bellmer buscava ao fotografar as suas bonecas, as quais montava, desmontava e remontava, o que ele determinou como “inconsciente físico” que, de uma forma breve, seriam os caminhos que os desejos inconscientes percorrem pelo corpo. Inspirado pelas fotografias de Hans Bellmer e pelas fontes internas da sua criadora o solo “Les Poupées” também explora, ao transgredir a lógica formal da distinção de oposições categóricas no corpo como dentro/fora, figura/fundo, homem/mulher, morto/vivo e animado/inanimado, o conceito “informe” segundo o sociólogo francês Georges Bataille para refletir sobre a condição do sujeito na contemporaneidade.
Duração: 40 minutos
Classificação: livre
Ficha Técnica – Concepção e Direção – Marta Soares. Coreografia e Interpretação – Marta Soares. Figurino – Marta Soares. Desenho de Luz – Beto de Faria. Trilha Sonora – Marta Soares. Objetos Cênicos – Marta Soares. Produção – CAIS Produção Cultural. José Renato F. de Almeida e Beto de Faria. Realizado com o apoio da Bolsa Rede Stagium 1997. Recebeu o Prêmio APCA 1997.
“Bondages” (versão solo)
O espetáculo “Bondages” versão grupo será um desdobramento no formato trio do espetáculo “Bondages” versão solo. E, como este último também terá como ponto de partida a série fotográfica “Amarrações” desenvolvida pelo fotógrafo surrealista alemão Hans Bellmer nos anos 50. A qual teve como objetivo submeter o corpo feminino a uma experimentação direta. Nela Bellmer amarrou o corpo nu da sua parceira Unica Zurn e fotografou as várias dobras que se formaram de diferentes pontos de vista. O seu objetivo principal foi a remodelação do corpo, operação que ele já havia realizado nos seus desenhos de Única mais de dez anos antes. Na cena, em cima de plataformas, as performers explorarão amarrações com um fio de nylon nos seus próprios corpos. Cada movimento gerará uma nova pose propondo uma reencenação do ato fotográfico que Bellmer realizou no corpo de Única Zurn, mas também, uma desfetichização desse ato, ao, como mulheres, amarrarem-se a si mesmas. O desenho de luz será criado por Aline Santini e o desenho de som por Lívio Tragtenberg.
Duração: cerca de 60 minutos
Classificação: a definir junto ao Teatro Municipal, contém nudez.
Ficha Técnica – Concepção e Direção – Marta Soares. Intérpretes – definir. Desenho de Luz – Aline Santini. Desenho de Som – Lívio Tragtenberg. Espaço Cenográfico a definir. Produção – CAIS Produção Cultural. José Renato F. de Almeida e Beto de Faria. Realizado com o apoio do Programa Municipal de Fomento a Dança para a Cidade de São Paulo
“O Banho”
A instalação coreográfica “O Banho” é uma reflexão sobre as questões propostas pela vida de Dona Sebastiana de Mello Freire, Dona Yayá. Mulher da elite paulistana que ao ser diagnosticada doente mental teve a sua casa no bairro da Bela Vista, São Paulo, parcialmente transformada em um hospital psiquiátrico privado e nela permaneceu isolada por ordens medicas entre 1919 e 1961. “O Banho” não tem como foco a doença mental de Dona Yayá e não é uma narrativa linear sobre a sua vida. Mas, coloca a questão: qual seria a subjetividade dessa mulher que, quando isolada, teve todos os vestígios que lhe remetiam a sua vida anterior retirados, e mesmo assim sobreviveu por quarenta anos? A instalação coreográfica “O Banho” é composta por elementos de dança, performance e vídeo, cujas imagens realizadas na casa da Dona Yayá, na sua maioria a partir dos reflexos do solarium de vidro, remetem a passagem do tempo e a dissolução do corpo em uma reflexão sobre a sua efemeridade. Durante a apresentação o corpo da performer permanece imerso em uma banheira–casa, movendo-se em limitado espaço e ilimitado tempo, suspenso pelo ponto no qual encontra-se entre vida e morte. Em uma referência aos experimentos realizados pelo médico Jean-Martin Charcot, no hospital Salpêtrière em Paris, com pacientes histéricas, os quais eram abertos a um público especializado e consistiam de repetitivos ataques induzidos nas pacientes que hoje podem ser analisados como performances teatrais. “O Banho” é sobretudo um ritual de limpeza, cura e uma homenagem a Dona Yayá e as mulheres que viveram ou vivem situações semelhantes a dela e resistem.
Duração: 50 minutos
Classificação: a definir
Ficha Técnica “O Banho”
Concepção/Direção – Marta Soares. Performance – Marta Soares. Desenho de Som – Lívio Tragtenberg. Desenho de Luz – Wagner Pinto. Edição e Finalização do Vídeo – Leandro Lima. Produção – CAIS Produção Cultural. José Renato F. de Almeida e Beto de Faria. Realizado com o apoio do Prêmio Rumos Dança do Itaú Cultural. Recebeu o Prêmio APCA 2024.
FEMININO INFORME
Local: Praça Ramos de Azevedo, s/n.
Ingressos: R$ 33,00 (inteira) | R$16,50 (meia-entrada) | Compre aqui
Duração: 40 minutos
Capacidade: 150 pessoas
Les Poupées
Apresentações: De 15 a 20 de Setembro
Horários: Domingo, às 19h | Segunda a Sábado, às 20h
Classificação: Livre
Bondages Grupo
Apresentações: De 15 a 20 de Setembro
Horários: Domingo, às 17h | Segunda, às 20h | Terça, às 19h | Quarta e Quinta, às 20h | Sexta, às 17h
Classificação: 16 anos
*O Banho – ainda em local a ser definido
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