A impossibilidade de continuar no local – hoje sob responsabilidade do INSS – deve-se à exigência de pagamento de aluguel, valor incompatível com a realidade de um coletivo de teatro sustentado por editais públicos e pela Lei de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, que, inclusive, teve papel decisivo na consolidação da presença do grupo na Vila.

A Vila Maria Zélia teve papel importante na história do Grupo XIX de Teatro. Ao ocupar o espaço com criações cênicas, ações formativas e projetos de pesquisa, o grupo devolveu à antiga vila operária seu caráter coletivo, tornando-a um polo cultural vivo na Zona Leste de São Paulo. Durante mais de duas décadas, a presença do XIX na Vila não apenas ressignificou a arquitetura e a memória do local, como também consolidou um modelo de fazer teatro comprometido com o território, com a escuta e com o espaço público compartilhado.
Hysteria e Hygiene são montagens emblemáticas que projetaram o grupo nacional e internacionalmente. Ambas têm a Vila Maria Zélia como espaço dramatúrgico vivo, incorporando o patrimônio arquitetônico da antiga vila operária à cena e à narrativa. Os espetáculos abordam temas como a repressão feminina no século 19 e os processos de higienização urbana que moldaram as cidades brasileiras e suas desigualdades.
Sobre os espetáculos

Hysteria foi a primeira peça montada pelo grupo e estreou em 2001. Ganhou 5 prêmios, incluindo o de revelação teatral pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), além de ter sido indicada para o Prêmio Shell de Teatro.
A história de passa no final do século 19, nas dependências de um hospício feminino. Cinco personagens internadas como histéricas revelam seus desvios e contradições – reflexos diretos de uma sociedade em transição, na qual os valores burgueses tentavam adequar a mulher a um novo pacto social. Cenicamente, abdica-se do palco e dos recursos de sonoplastia e iluminação, optando-se por um espaço não convencional, onde a plateia masculina é separada da feminina que é convidada a interagir com as atrizes.

O espetáculo soma mais de 350 apresentações em mais de 80 cidades brasileiras e 14 cidades no exterior. Em 2005, o grupo cumpriu uma temporada de dois meses em 8 cidades francesas por ocasião do Ano do Brasil na França. Mais tarde, em 2008, embarcou para a Inglaterra, apresentando-se em Londres e Manchester a convite do Barbican Center e do Contact Theatre. Em 2009, participou do projeto Palco Giratório do SESC, realizando apresentações em 58 cidades das 5 regiões do Brasil.
Hygiene, encenada à luz do dia, nos prédios históricos da Vila Operária Maria Zélia, é baseada em uma pesquisa sobre o processo de higienização urbana no Brasil do final do século 19, onde um grande contingente de culturas e ideias dividem o mesmo teto – o cortiço. Desse caldeirão de misturas surgem os embriões de importantes manifestações de nossa identidade, assim como as desigualdades sociais que marcam profundamente os nossos dilemas atuais.

Contando a história de operários, imigrantes, lavadeiras, meretrizes, ex-escravos, curandeiros, comerciantes do Rio de Janeiro da virada para século 20, quando a habitação virou uma questão pública e a sociedade, inspirada por modelos urbanos europeus, resolve pôr em prática a ideia de uma casa uni familiar, o Grupo XIX traz à tona as características que marcaram profundamente a construção da identidade brasileira. O samba, o sincretismo religioso, as lutas operárias, entre outras manifestações socioculturais tiveram seus embriões gerados nessas habitações coletivas.
Por esta peça o grupo foi indicado ao prêmio Shell de Teatro – 2005 e ao Prêmio Bravo! Prime de Cultura como um dos três melhores espetáculos do ano e foi premiado como melhor espetáculo no Prêmio Qualidade Brasil 2005 – São Paulo.
Sobre o Grupo XIX de Teatro
Com mais de 20 anos de trajetória, o Grupo XIX de Teatro desenvolve uma pesquisa contínua de linguagem e dramaturgia, marcada pela ocupação de prédios históricos e pela participação ativa do público. Desde 2004, realiza sua residência artística na Vila Maria Zélia, onde consolidou um espaço de criação, formação e difusão. Ali, desenvolveu os Núcleos de Pesquisa, que acolheram anualmente cerca de cem artistas, além de promover espetáculos, oficinas e encontros que fortaleceram a cena teatral paulistana. O reconhecimento ao longo dos anos inclui mais de 15 premiações e indicações — entre elas Shell, APCA, Bravo! e Prêmio Qualidade Brasil. Em 2017, recebeu o Prêmio Shell de Inovação pela intervenção artística na própria Vila.
O grupo já circulou por 21 cidades de cinco países — entre Europa e África — com destaque para turnês na França, Inglaterra, Itália e Portugal. Seu repertório reúne nove peças: Hysteria (2001), Hygiene(2005), Arrufos (2008), Marcha para Zenturo (2010), Nada aconteceu Tudo acontece Tudo está acontecendo(2013), Estrada do Sul (2013), Teorema 21 (2016), Intervenção Dalloway: Rio dos Malefícios do Diabo (2017) e o espetáculo infantil Hoje o Escuro Vai Atrasar Para que Possamos Conversar (2018). Durante a pandemia, estreou o espetáculo on-line Infâmia, inspirado na obra de Lillian Hellman.
HYSTERIA

Ficha técnica:
Direção: Luiz Fernando Marques. Criação, pesquisa de texto e figurinos: Grupo XIX de Teatro. Elenco: Evelyn Klein, Mara Helleno, Ericka Leal, Juliana Sanches e Tatiana Caltabiano. Produção Executiva: Andréa Marques. Produção: Grupo XIX de Teatro.
Data: 17 e 18 de Maio
Horário: Sábado, às 16h | Domingo, às 11h
Ingresso: R$80,00 (inteira) | R$40,00 (meia) | Compre aqui
Duração: 70 minutos
Classificação: 14 anos
Capacidade: 140 lugares
HYGIENE

Ficha técnica:
Direção: Luiz Fernando Marques. Pesquisa e Criação: Grupo XIX de Teatro. Elenco: Juliana Sanches, Paulo Celestino, Rodolfo Amorim, Ronaldo Serruya, Ericka Leal, Tatiana Caltabiano e Yves Baeta. Contra-Regra: Roberto Oliveira. Produção Executiva: Andréa Marques. Produção: Grupo XIX de Teatro.
Data: 25 de Maio
Horário: Domingo, às 15h
Ingresso: R$80,00 (inteira) | R$40,00 (meia) | Compre aqui
Duração: 80 minutos
Classificação: Livre
Capacidade: 120 lugares
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