Comemorando 20 anos nos palcos, o Grupo Redimunho de Investigação Teatral apresenta “Couro Duro: A Saga Do Fim Do Mundo”, uma sequência de histórias cruzadas entre a literatura e a realidade, que, por consequência, se entrecruzam com o atual momento histórico e político do Brasil. O espetáculo traz à cena o encontro entre figuras simbólicas das obras de Guimarães Rosa, como Diadorim, Riobaldo e Joca Ramiro com dois personagens reais e não ficcionais, Lampião e Maria Bonita.
Contemplado pela 41° Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo “Couro Duro: A Saga Do Fim Do Mundo” mostra um grupo de artistas que está filmando um longa-metragem com o patrocínio de um grande mecenas. A partir desse enredo, a encenação traz para a cena questões sobre a produção teatral contemporânea numa clara metáfora com as tensões e incertezas enfrentadas nos bastidores do teatro paulista.

O filme que está sendo “rodado” no espetáculo conta a convocação para uma reunião com todos os jagunços das obras de Guimarães Rosa feita por Joca Ramiro, um dos personagens da obra Grande Sertão: Veredas. Mescla de ficção e realidade, Lampião e Maria Bonita chegam para participar da reunião, porém Joca Ramiro não aparece. Em uma espécie de Esperando Godot do sertão, o grande chefe não dá as caras, mas os jagunços ficam ali cheios de esperança em encontrar o líder.
Decifrando um país
A dramaturgia de “Couro Duro: A Saga Do Fim Do Mundo” tenta mostrar um ponto ficcional dentro da própria ficção roseana. “Apesar de você saber que Lampião existiu na história brasileira, ao mesmo tempo ele também é recheado de questões ficcionais, coisas que não se sabe se são reais, se são mentiras”, explica o diretor e dramaturgo Rudifran Pompeu.
Para ele, “Couro Duro: A Saga Do Fim Do Mundo” propõe um embate simbólico entre o Brasil arcaico e o moderno e a cidade e o sertão. “Faço então uma relação entre a equipe de filmagem que reúne artistas com poucos recursos financeiros e de produção com os homens do campo, trabalhadores rurais e a jagunçagem expondo a face contraditória da nação ao sugerir que o arcaísmo não é apenas resíduo do passado, mas um dos modos mais efetivos do presente”.

É a partir de reflexões sobre a vida dos trabalhadores rurais que o Grupo Redimunho baliza suas experiências e as coloca em contraponto com a vida no espaço urbano, tratando dos aspectos políticos, sociais e culturais que, em seguida, servem de referências para a construção de um discurso artístico, simbólico e político com o objetivo de traçar um eixo capaz de ser o suporte para o estudo de um teatro que se propõe a transpassar a lógica do entretenimento.
“Evidenciamos a fonte inesgotável do universo roseano nessa árdua e necessária tarefa de interpretar o país, bem como a importância de uma pesquisa continuada que fornece raras possibilidades de debate, produção de conhecimento, fomento cultural e formação de profissionais”, pontua Rudifran Pompeu.
Filme dentro do espetáculo
Com música executada ao vivo por cinco músicos, “Couro Duro: A Saga Do Fim Do Mundo” reúne 19 artistas em cena. A presença constante da trilha sonora contribui para a construção de uma ambiência sensorial, na qual a música, os ruídos e a movimentação do elenco se entrelaçam à dramaturgia.

A cenografia é construída como um set de filmagem improvisado, com estruturas móveis, equipamentos cênicos aparentes e objetos multifuncionais que remetem tanto ao universo do cinema quanto ao sertão árido e simbólico. Grua, tripés, refletores, cabos e câmeras dividem o espaço com elementos de terra batida, galhos secos e lonas esgarçadas, criando uma justaposição entre o real e o ficcional, entre o processo e a representação.
Já os figurinos transitam entre o literal e o simbólico: os personagens jagunços vestem trajes que evocam o imaginário do sertão – chapéus de couro, lenços, botas empoeiradas –, mas que carregam também uma marca de artifício, revelando, por vezes, a costura, o desgaste e a teatralidade dos tecidos. Essa escolha reforça a dualidade entre os atores e os personagens, entre os cineastas e os sertanejos míticos, revelando as camadas de construção que permeiam tanto o filme dentro do espetáculo quanto a própria encenação teatral.
Ficha técnica:
Texto e Direção – Rudifran Pompeu. Elenco – Danilo Amaral, Giovanna Galdi, Keyth Pracanico, Anisio Clementino, Ricardo Saldaña, Bruna Aragão, Neide Nell, Amanda Preisig, Alberto Vizoso, Agatha Selva, Camila de Castro, Francisco Gaspar, Diogo Cintra, Heitor Vallim, Emilio Negreiro e Rodrigo Pinto. Músicos – Luis Aranha, Cíntia Gasparetto, Ricardo Saldaña, Hugo Nalbert e Agatha Selva. Assistência de Direção – Danilo Amaral. Direção Musical – Luis Aranha. Iluminação – Léo Xymox. Figurinos – Keyth Pracanico e Grupo Redimunho. Cenografia – Rudifran Pompeu e Grupo Redimunho. Artista Colaborador – Breno Carvalho. Programação Visual – Danilo Amaral. Pesquisa e Consultoria Literária – Ivan Forneron. Produção – Giovanna Galdi. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Fotografia – Jardiel Carvalho. Realização – Grupo Redimunho de Investigação Teatral.
COURO DURO: A SAGA DO FIM DO MUNDO

Temporada: De 11 de Maio a 01 de Julho
Horário: Domingos, às 19h | Segundas e Terças, às 20h
Local: Rua Álvaro de Carvalho, 75 – Centro
Ingressos: R$ 30,00 (inteira) | R$ 15,00 (meia) | R$ 10,00 (moradores do entorno do teatro)
Duração: 120 minutos
Classificação: 14 anos
Siga o Canal Tadeu Ramos no Instagram