Questões urgentes sobre migração forçada e a busca por acolhimento ganham voz no espetáculo Refúgio, que estreia em São Paulo, no auditório do Centro Cultural Bibli-ASPA, localizado no bairro da Santa Cecília. A instituição, que atua há mais de 20 anos promovendo a integração de imigrantes e refugiados, atende mais de 500 pessoas por semana com iniciativas em ensino, cultura e empreendedorismo. A montagem integra a programação da instituição, que também realiza oficinas, exposições e atividades de formação artística.
Com dramaturgia e direção de Danielli Guerreiro e elenco formado por 24 mulheres refugiadas e imigrantes do Afeganistão, Irã, Marrocos, Venezuela, Nigéria e Congo, o espetáculo estreia temporada de 16 de maio a 8 de junho, com sessões sextas e sábados, às 20h e aos domingos, às 18h. A inclusão também é um dos pilares da iniciativa, com sessões acessíveis por meio de tradução em Libras e apresentações voltadas a escolas públicas e comunidades em situação de vulnerabilidade.
Na trama, são abordadas questões que mostram o que essas mulheres tiveram que enfrentar em seus países, e que as fizeram buscar abrigo no Brasil. As cenas passam pela opressão do Talibã, que mais uma vez tomou o poder no Afeganistão em 2021; a prática ilegal e clandestina de se cobrar por vagas de emprego no Marrocos; a crise da Venezuela; o autoritarismo que gera pressão extrema na vida das mulheres no Irã; os problemas políticos que geram conflitos diários na Nigéria. A encenação privilegia o texto e o contato direto com o público, além de possuir elementos como vídeos e figurinos tradicionais dos países de origem, escolhidas pelas próprias atrizes.
“Refúgio” transforma o palco em um espaço de escuta, partilha e resistência. A montagem nasceu de rodas de conversa com o elenco — todas integrantes do Centro Cultural Bibli-ASPA — e apresenta, em português, histórias reais marcadas por opressão, violência e deslocamento forçado. Em cena, essas vivências se transformam em força coletiva, revelando a potência da arte como ferramenta de acolhimento e transformação.
A proposta do espetáculo é provocar uma reflexão sobre a realidade das pessoas refugiadas no Brasil, desconstruindo estigmas e abrindo espaço para o entendimento das múltiplas razões que as fizeram deixar seus países. A peça revela, por meio da arte, como o preconceito, a xenofobia e a desinformação são barreiras enfrentadas diariamente por essas pessoas, mesmo após o recomeço em território brasileiro.
“Reuni as atrizes e propus criar um espetáculo para dar visibilidade aos motivos que as fizeram deixar seus países”, relata a diretora Danielli Guerreiro. “As histórias foram surgindo com muita emoção, confiança e escuta. Cada depoimento era um convite ao cuidado e à responsabilidade de transformar tudo aquilo em cena”, conta ela.
Além do desafio emocional de lidar com relatos intensos, Danielli precisou conduzir um elenco sem experiência prévia no palco — muitas sequer haviam assistido a uma peça. “Então optei por uma encenação mais direta, com os relatos sendo ditos olho no olho com o público”, explica. O cuidado com a tradução dos depoimentos e a sensibilidade no tratamento das histórias foram essenciais. “Meu maior cuidado foi garantir que nada soasse apelativo, e sim respeitoso e potente.” Para ela, o espetáculo também é uma ferramenta de acolhimento: “O palco aproxima culturas, amplia vocabulário, fortalece a autoestima. Elas são vistas, ouvidas e acolhidas por desconhecidos, e isso tem um impacto imenso na forma como passam a se reconhecer.”
A proposta de diálogo entre palco e plateia se estende para além da apresentação. A cada semana da temporada, a primeira sessão contará com um bate-papo ao final do espetáculo, promovendo uma troca direta entre público e elenco. Os temas estarão sempre relacionados à migração e aos desafios enfrentados por quem escolheu o Brasil como destino. “Esses encontros são momentos de troca riquíssimos, onde dúvidas são aprofundadas, emoções compartilhadas e conexões profundas acontecem”, diz a diretora.
Ficha técnica:
Texto e direção: Danielli Guerreiro.Elenco: Adanne Udoka, Bibi Jan, Yasamin Mahmoodi Injila Mahmoodi, Najibullah Rezaie, Khalil Haidari, Ruqia Ghulami, Muzhgan Yawari, Zahra Hussaini, Laura Dina Velásquez, Oumaima Touijrat, Emmanuelle Arlette Bembet, Njideka Obioma, Liliana Lopes João, Claudine Ozoemenam, Stainless Precious, Emenalo Chidimma e Vivian Odimegwu. Iluminação e assistente de palco: Matheus Spolzino. Direção Musical: Flávio Hernandes. Produção e realização: Bibli-ASPA.
REFÚGIO
Temporada: De 16 de Maio a 08 de Junho
Horário: Sextas e Sábados, às 20h | Domingos, às 18h.
Local: Rua Baronesa de Itu, 639 – Santa Cecília
Ingressos: Gratuito
Duração: 60 minutos
Classificação: 12 anos.
Capacidade: 70 lugares
Bate-papo após cada primeira apresentação da semana
