Buscando novas maneiras de representar a negritude, que não passam pela violência e o sofrimento, a companhia Aquilombamento Ficha Preta estreia seu novo trabalho. “OZ” faz sua temporada no Sesc Vila Mariana.
Idealizada e escrita por Aline Mohamad, a peça é sobre um casal que decide não se curvar às regras de um amor socialmente instituído. Eles passam a questionar os limites impostos aos seus corpos e aprendem a construir uma família a partir das suas próprias crenças.

“Quando iniciamos as pesquisas para o ‘OZ’, eu tinha acabado de perder uma tia muito querida chamada Zeneb. Ela era surda e percebi que minha família sempre a colocou em uma redoma. Por isso, ela nunca pôde vivenciar sua sexualidade plenamente”, conta Aline.
Essa história foi o grande disparador dramatúrgico do espetáculo. “Embora não seja uma narrativa biográfica, muitas das experiências de Zeneb conduzem a obra. Ela nunca teve um amor romântico, mas dava alguns selinhos em amigos e gostava de assistir a filmes pornôs, por exemplo. E, como existem outros amores possíveis, quisemos falar sobre isso”, completa.

Para o grupo, era importante desmistificar a ideia de que apenas certos corpos estão predestinados ao amor. Dessa forma, o casal do espetáculo é formado pelo ator, poeta e slamer surdo Edinho Santos e a atriz Letícia Calvosa. E a encenação é bilíngue, em português e Libras.
Os dois partilham seus afetos principalmente na cozinha, o coração da casa. É lá onde o aroma do café passado no pano se mistura com o calor do forno, onde cada panela guarda um segredo e cada tempero carrega a marca de quem cuida e acolhe.
“Para o povo preto, a cozinha não está atrelada apenas a um lugar de serviço, mas de confraternização e afeto. Por isso, valorizamos uma mesa farta, cheia de delícias para compartilhar”, comenta Tainara Cerqueira, que assina a direção ao lado de Rodrigo França.

E o cenário e o figurino evocam esse ambiente carinhoso, mas de maneira lúdica, com muita cor. “Queremos que esses elementos façam a plateia perceber um novo mundo de possibilidades de doçura dentro de casa. O trabalho é uma oportunidade de apresentar outros tipos de relações, que fogem à lógica patriarcal e se alinham mais a uma perspectiva decolonial. Eu venho de um lar em que as mulheres eram centrais, mesmo com um pai carinhoso e financeiramente presente ”, defende França.
O público até vai poder desfrutar de um café com bolo de cenoura durante as apresentações. Isso porque os alimentos são capazes de evocar memórias afetivas e ancestrais.
“OZ” configura-se como um ritual de amor que transcende o tempo. Os espectadores acompanham a construção de cumplicidade entre um casal, a cada gesto cotidiano. A peça mostra como o lar pode ser um espaço de resistência, cuidado e beleza, mesmo com uma sociedade julgadora.
Ficha Técnica
Idealização e Dramaturgia: Aline Mohamad
Direção: Rodrigo França e Tainara Cerqueira
Elenco: Edinho Santos e Letícia Calvosa
Intérpretes: Caroline Martins e Larissa Martins
Direção de movimento: Tainara Cerqueira
Dramaturgia Sonora e Trilha Original: Dani Nega
Direção de Imagens: Carol Godinho
Cenário e Figurinos: Rodrigo França
Iluminação: Pedro Carneiro
Programação visual: Raquel Alvarenga
Mídias Sociais: Júlia Tavares
Fotos: Tiago Silva
Visagismo: Diego Nardes
Produção Aquilomamento: Anne Mohamad | Ubukirê Produções
Produção: Corpo Rastreado
Realização: Sesc SP, MS Arte e Cultura e Corpo Rastreado
Assessoria de imprensa: Canal Aberto
OZ

Temporada: De 21 de Maio a 26 de Junho
Horário: Quartas e Quintas, às 21h*
Local: R. Pelotas, 141 – Vila Mariana
Ingresso: R$50,00 (inteira) | R$25,00 (meia) | R$15,00 (Credencial Plena) | Compre aqui
Acessibilidade: Todas as sessões com tradução em Libras. Sessões com audiodescrição: dias 11, 12, 18 e 19 de junho
Classificação: 12 anos
Duração: 60 minutos
*Dia 19 de Junho (feriado) a sessão será às 18h