Em residência artística desde outubro deste ano para a criação de um novo espetáculo em conjunto, os coletivos Teatro da Ponte (Brasil/Alemanha) e Grupo M´Bêu (Maputo, Moçambique) abrem as portas de seu intercâmbio em uma tarde repleta de eventos abertos ao público no Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Eventos acontecerão na Casa da Gioconda, espaço cultural no bairro Bela Vista.
A primeira parte da programação, das 16 às 18 horas, é o workshop gratuito com Isabel Jorge e Yolanda Fumo, artistas do Grupo de Teatro M´Bêu, de Maputo, intitulado “Nkaringana wa nkaringana”. Em um mergulho no rico universo dos contos tradicionais moçambicanos, histórias ancestrais ganham vida através da interpretação teatral. O workshop destina-se a atores/atrizes e também a pessoas não profissionais da área, porém interessados em artes cênicas e em trocas culturais. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas aqui.
“Nkaringana wa nkaringana”. É assim que se inicia a contação de histórias à volta da fogueira no sul de Moçambique, uma forma aproximada de dizer “era uma vez”, e os que constituem a roda respondem: “nkaringana”. Esta oficina não apenas enriquece o conhecimento cultural, mas também proporciona uma experiência única de autodescoberta e expressão artística”, diz Isabel Jorge, do Grupo Mêu, de Moçambique.
Após o workshop, às 19 horas, haverá apresentação do “Monólogo da Prostituta no Manicômio”, de Dario Fo e Franca Rame, produzida pelo Grupo M´Bêu. A peça conta a história de uma mulher ao ser interrogada por uma médica e sua equipe. A partir do seu depoimento, nos deparamos com a trajetória de alguém que foi alvo de uma sequência de violências de gênero ao longo da vida.
Encerrando os eventos, às 20 horas, haverá uma conversa com o público sobre o intercâmbio cultural entre o Teatro da Ponte e o Grupo M´Bêu, na presença de todos os artistas do elenco. Em residência artística desde outubro, os dois coletivos, formados por pessoas do Brasil, Alemanha e Moçambique, trabalham na nova co-produção internacional da peça de teatro SUJO(S), de Milton Morales Filho. A trama se passa em uma cela do Brasil colônia e através de diálogos entre um comerciante inglês e um revolucionário brasileiro nos deparamos com um passado brasileiro de corrupção e resistência.
“Temos convivido e trabalhado juntos há mais de um mês, aprendendo e compartilhando muito neste tempo. Queremos abrir esse compartilhamento de saberes com o público, ampliando o alcance deste intercâmbio cultural e celebrando os encontros que a arte possibilita.” diz Letícia Forattini, co-fundadora do Teatro da Ponte.
Experiência em Moçambique e na Alemanha uniu os grupos em 2022/2023
Em 2020, o Teatro da Ponte foi contratado pelo Teatro Municipal de Aalen, na Alemanha, para intermediar um intercâmbio cultural de três anos entre grupos jovens de teatro da Alemanha e Moçambique. Foi assim que o coletivo Teatro da Ponte e o Grupo M´Bêu tiveram o primeiro contato.
Em 2023, a relação ficou ainda mais próxima quando o Teatro da Ponte produziu apresentações do Grupo M´Beu na Alemanha, com o apoio do Ministério da Cultura de Moçambique, do Teatro Municipal de Aalen e do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.
“Percebemos neste encontro a riqueza potencial não só da fusão de diversas matrizes culturais, mas também da pluralidade de perspectivas no fazer artístico. Das afinidades culturais particulares entre Brasil e Moçambique nasceu o desejo de trazer o Grupo M´Beu para terras brasileiras e de realizar juntos uma coprodução em São Paulo”, explica Bastian Thurner, do Teatro da Ponte.
Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra na Casa da Gioconda
Endereço: Rua Conselheiro Carrão, 288 – Bela Vista, São Paulo.
16 às 18h – Workshop gratuito com as atrizes Isabel Jorge e Yolanda Dina Fumo do Grupo M´Bêu de Teatro de Maputo, Moçambique. Jogos cênicos a partir de contos tradicionais moçambicanos. Entrada gratuita, vagas limitadas. Inscrição para o workshop aqui
19h – Apresentação do “Monólogo da Prostituta no Manicômio”. Ingressos no local, por ordem de chegada, sujeito à lotação do espaço. Contribuição consciente, pague o quanto puder.
20h – Roda de conversa sobre o intercâmbio entre o Teatro da Ponte (Brasil, Alemanha) e o Grupo M´Bêu de Teatro (Moçambique) na presença dos artistas dos três continentes. Leitura dramática de trecho da nova co-produção internacional – a peça SUJO(S). Contribuição consciente, pague o quanto puder.
MONÓLOGO DA PROSTITUTA NO MANICÔMIO – SINOPSE
“Monólogo da Prostituta no Manicômio” é um texto escrito por Dario Fo e Franca Rame que conta a história de uma mulher ao ser interrogada por uma médica e sua equipe. A partir do seu depoimento, nos deparamos com a trajetória de alguém que foi alvo de uma sequência de violências de gênero ao longo da vida. A produção do “Monólogo da Prostituta no Manicômio” conta com o patrocínio da Embaixada da Itália em Moçambique e com o apoio da Fondazione Fo Rame.
Com interpretação de Yolanda Fumo e direção de Isabel Jorge, desde sua estreia o monólogo teve várias apresentações nas cidades de Maputo e Beira, em Moçambique e no Teatro Municipal de Aalen e no Teatro Tri-Bühne no 15. Festival de Teatro SETT, em Stuttgart, Alemanha. Integrou também a programação do Festival Internacional de Teatro de Inverno, em Maputo, 2024.
O tema da peça – a violência contra a mulher – é ainda uma questão de grande preocupação mundial, não apenas do ponto de vista dos direitos humanos, mas também econômico e de saúde. Em Moçambique, a cada dois dias do ano de 2022 um homem matou uma mulher, segundo dados compilados pelo Mídia Lab. No primeiro trimestre de 2023, foi preciso apenas um dia para uma mulher perder a vida. Uma realidade cotidiana sobretudo em Maputo, Beira e Inhambane. O Brasil registrou, em 2023, 1.463 feminicídios, dados publicados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) – em média, um feminicídio a cada seis horas. A violência de gênero está diretamente ligada às normas, atitudes e práticas de gênero dominantes, bem como a relações de poder desiguais entre mulheres, homens, meninas e meninos. A peça “Monólogo da Prostituta no Manicômio” transforma histórias de abuso e violência, sejam elas psicológicas e/ou sexuais, em caminhos para que as vítimas encontrem dentro de si um novo alguém mais forte.
FICHA TÉCNICA
Direção: Isabel Jorge
Atriz: Yolanda Dina Fumo
Trilha Sonora: Lenna Bahule
Cenografia: Evaro de Abreu
Produção no Brasil: Teatro da Ponte
SUJO(S) – SINOPSE
O texto da peça SUJO(S) foi um dos vencedores do edital Proac 2017 (criação literária – texto de dramaturgia) e foi lançado em livro em setembro de 2018 com uma leitura dramática pública na Biblioteca São Paulo. Inspirado em fatos históricos, como o Movimento Baiano de 1798, popularmente conhecido como “Conjuração Baiana”, documentos como o Manuscrito 512, descoberto em 1832, com o título de “Relação histórica de uma oculta e grande povoação antiquíssima sem moradores” e relatos de viajantes (Narrativa de uma viagem ao Brasil, de Thomas Lindley de 1802/03), a trama acontece em uma cela no Brasil colônia, onde estão presos um traficante de pau-brasil inglês e um homem escravizado com desejo por liberdade e igualdade.
Enquanto as personagens aguardam suas penas, o público é levado a uma imersão no pensamento e no modo de vida da época, criando um espelho com os dias atuais.
Como dramaturgo, Milton Morales Filho foi indicado e recebeu diversas premiações importantes, como o extinto Prêmio Femsa de Teatro, APCA, Cultura Inglesa Festival, Prêmio Funarte de Dramaturgia, dentre outros.
FICHA TÉCNICA
Direção: Isabel Jorge
Elenco: Yolanda Dina Fumo, Bastian Thurner, Réggis Silva, Thiago Carreira, Jesum Biasin Trilha sonora: Jesum Biasin
Figurinos e cenografia: Graziela Bastos
Iluminação e cenografia: Nicolas Marchi
Preparação corporal: Letícia Forattini
Produção: Teatro da Ponte
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