Em Breve

“Cena Ouro – Epide(r)mia”, da Cia. Mungunzá de Teatro, ganha duas apresentações no Sesc Bom Retiro

Costurando mito e cotidiano, recorrendo à figura de Medusa, a narrativa transita entre os temas da mobilidade e da imobilidade.

Fruto da convivência com as urgências, demandas e potências do território, resultando numa encenação performática e sinestésica, o espetáculo “Cena Ouro – Epide(r)mia”, da Cia. Mugunzá de Teatro realiza duas únicas apresentações em abril, no Sesc Bom Retiro. O espetáculo foi criado para a 1ª edição do Festival Cultura e Pop Rua, em agosto de 2023, que contará com sua segunda edição este ano, realizada novamente pelo Sesc São Paulo e pelo Museu da Língua Portuguesa.

Cena Ouro, o espetáculo, é uma releitura de Epidemia Prata (de 2018), que por sua vez surgiu da vivência da Cia. Mungunzá no território da Luz. Com argumento e produção da Cia. Mungunzá de Teatro e textos escritos pelos artistas da cena, o espetáculo conta com supervisão dramatúrgica de Verônica Gentilin e direção de Cris Rocha, Georgette Fadel e Tânia Ganussi. As apresentações de abril são também um “aquecimento” para a nova edição do Festival. Em cena, o espetáculo reúne sete artistas da Companhia Mungunzá ao lado de outros sete artistas criadores do território, que estiveram ou estão em diferentes situações de vulnerabilidade social e que trazem para o palco suas vivências e potencialidades em depoimentos a partir de suas respectivas histórias e trajetórias.

Elenco de "Cena Ouro - Epide(r)mia" — Foto: João Leocci

É o caso de MC Docinho, uma das articuladoras do núcleo de mulheres da Cracolândia no projeto TTT – Teto, Trampo e Tratamento, e que começou a compor e cantar suas canções durante as ações sociais emergenciais no período da pandemia, no Teatro do Contêiner. Outra integrante é Laurah Cruz, mulher trans, multiartista que integra também o Coletivo Tem Sentimento, projeto focado em geração de renda e capacitação para mulheres Cis e Trans. Participa do elenco também Danee Amorim, artista do corpo, trans-ativista, contorcionista, circense, atriz e dançarina, participa do Coletivo Tem Sentimento e atualmente cursa a Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo.

O cast do espetáculo conta ainda com Átila Fragozo, artista visual, um dos autores do coletivo Paulestinos, que atua nos espaços públicos por meio do lambe-lambe. Percursionista, integra iniciativas que unem cultura, redução de danos e geração de renda. Cleiton Ferreira – o Dentinho – é artista, redutor de danos pelo Centro de Convivência É de Lei, militante dos direitos humanos, pesquisador pela Unifesp, representa São Paulo na delegação nacional de Saúde Mental, além de integrar o projeto Birico. MC Nego Bala, cantor, compositor e produtor musical, nascido e criado no território da Luz, já gravou com a cantora Elza Soares (1930 – 2022), teve o seu documentário, “Sonho”, laureado com o Grand Prix no Clio Music Awards 2022, além de vencer o Shark Awards 2022.

Com participação em vídeo na peça, Índio Badaróss completa o elenco de artistas do território. É artista que desenvolve pinturas e performances utilizando tintas e suportes encontrados na rua, enquanto exerce sua profissão de catador de materiais recicláveis. Em cena estão também os atores da Cia Mungunzá Léo Akio, Lucas Bêda, Marcos Felipe, Pedro das Oliveiras, Sandra Modesto, Verônica Gentilin e Virginia Iglesias.

Costurando mito e cotidiano, recorrendo à figura de Medusa, a narrativa transita entre os temas da mobilidade e da imobilidade. Além disso, as ambivalências são acentuadas pela alternância entre as cores prata, fria e dura, e o ouro, solar e caloroso. A ideia é embaralhar até ressignificar compreensões estigmatizadas sobre um território – a assim chamada “Cracolândia” –, e as pessoas que ali convivem em seus múltiplos deslocamentos, disputas e fluxos.

De acordo com artigo (publicado no Boletim do Instituto de Saúde, volume 25, número 1, 2024) da atriz, escritora e uma das fundadoras do teatro do Contêiner Mugunzá, Verônica Gentilin, “o fio narrativo continua de um espetáculo para o outro (…)”. Ela ressalta que os espetáculos são “opostos e complementares”, e que “traduzem nosso processo contínuo de interlocução com o território”. E assegura, “quanto mais lá estivermos, outros desdobramentos virão”.