True Crime no palco: “Cartas da Prisão” choca e provoca

O documentário cênico, que mescla ficção e relatos reais de mulheres que sofreram diversas formas de abuso estreia.

Com texto de Nanna de Castro, direção de Bruno Kott, e atuação de Chica Portugal, o espetáculo terá sua estreia na capital no Sesc Pompeia após dois anos de circulação.

250 cartas são encontradas debaixo do colchão numa penitenciária de segurança máxima em São Paulo. Elas revelam a correspondência amorosa entre uma dona de casa e um psicopata condenado por esquartejar mais de 40 mulheres. No palco, a atriz Chica Portugal dá vida a cinco diferentes mulheres que se relacionam com homens presos, expondo os abusos enfrentados por mulheres que, por gerações, foram educadas a serem reféns do ideal de amor romântico.

O espetáculo conecta-se com a ascensão do gênero true crime, que tem ganhado cada vez mais força no cinema e na TV. True crime se baseia em histórias reais de crimes, muitas vezes apresentando detalhes das mentes de assassinos, psicopatas e suas vítimas, revelando aspectos sombrios da sociedade. Além de explorar o ponto de vista dos criminosos, essas produções frequentemente humanizam as vítimas, mostrando suas trajetórias e as complexidades emocionais envolvidas.

Chica Portugal em cena, interpretando diferentes mulheres em relações abusivas
Foto: Rafael Salvador e Lyvia Gamerc

No Brasil, o true crime tem ganhado relevância com projetos como o documentário ‘Elize Matsunaga: Era uma Vez um Crime’ da Netflix, que reconta o caso de uma mulher que matou e esquartejou o marido, o longa metragem produzido pela Amazon, “Maníaco do Parque”, estrelato pelo ator Silvério Pereira. A minissérie do Streaming, Max “Praia dos ossos” que reconta o assassinato de Ângela Diniz, e também a série da Prime “Tremembé” sobre o presídio dos criminosos Roger Abdelmassih, Robinho, Alexandre Nardoni e Cristian Cravinhos, ex-namorado de Suzanne von Richthofen.

“O que as séries e filmes de true crime geralmente revelam à distância, o espetáculo nos convida a ver de perto: a complexa relação entre violência, medo, patriarcado e dependência emocional, ao mesmo tempo em que questiona os perigos de romantizar relações abusivas. Afinal, em quantas dessas histórias, as vítimas não estavam apaixonadas por seus algozes? A paixão já te fez confiar cegamente em alguém, a ponto de perder o controle?” questiona Bruno Kott, diretor do espetáculo.

A respeito de uma de suas motivações para montar o solo, a atriz Chica Portugal, que também é idealizadora da montagem, menciona: Ao longo dos anos de pesquisa, e com a circulação do espetáculo, escuto variações do público da seguinte pergunta: ‘Mas por que ela se envolve sabendo que ele é um assassino e pode fazer mal para ela? Só pode ser doida’. E geralmente eu abro debate falando sobre esse paralelo das relações – a princípio tão distintas das nossas dinâmicas – ditas, românticas, mas que acabam nos aprisionando e sendo nutridas pelas codependência e estruturas sociais. Mas afinal, quem nunca sofreu por amor. E era amor mesmo?”

Chica Portugal em cena, interpretando diferentes mulheres em relações abusivas
Foto: Rafael Salvador e Lyvia Gamerc

O texto de Nanna de Castro rompe propositalmente o limite entre realidade e ficção ao transitar entre depoimentos verdadeiros e fictícios, entre o noticiário e o poético. Obras como “Mulheres que Amam Demais”, de Robin Norwood, e “Loucas de Amor”, de Gilmar Mendes, são referências importantes.

O solo estreou durante a pandemia, em 2020, numa versão online. Em 2022, teve sua estreia presencial no Sesc Santo André. No ano seguinte, realizou o circuito das Fábricas de Cultura, na capital paulistana; participou do evento Março-Mulher em Guaratinguetá (SP), além de realizar apresentações durante a II Semana de Reflexão e Combate à Violência contra a Mulher no Teatro Feluma e na Virada Cultural em Belo Horizonte/MG. Em março de 2024 realizou circulação via ProAC pelas regiões com maior índice de feminicídio do Estado. Recentemente realizou turnê pelas unidades do SESI_SP no Viagem Teatral.

Ficha Técnica:

Pesquisa e Atuação: Chica Portugal
Texto: Nanna de Castro
Direção: Buno Kott
Cenário e Figurino: Kleber Montanheiro
Desenho de Luz: Marisa Bentivegna
Desenho de Som: Juliana R.
Caracterização: Beto França
Preparação Corporal: Bruna Magnes
Preparação Vocal: Marilene Grama
Assist. de Figurino e Cenário: Marcos Valadão
Cenotécnico: Evas Carretero
Operação de som: Leandro Goulart
Operação de luz: Giovanna Clara e Violeta Chagas
Voz Off Poema: Nany di Lima
Música: Cálice Intérprete: Paula Mirhan Composição de Chico Buarque e Gilberto Gil
Intérprete de Libras: Greicy Santos
Designer: Jane Santana
Fotos de Divulgação: Rafael Salvador e Lyvia Gamerc
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Manager Conexões Artísticas: Vanessa Lopes
Produtora Assistente: Bia Cordeiro
Direção de Produção: Fà-Móra Produções Artísticas
Realização: Sesc Pompéia

CARTAS DA PRISÃO

Chica Portugal em cena, interpretando diferentes mulheres em relações abusivas
Foto: Rafael Salvador e Lyvia Gamerc

Temporada: De 05 a 15 de Novembro
Horário: Terça a Sexta, às 20h30*
Local: R. Clélia, 93 – Água Branca
Ingressos: R$ 50,00 (inteira) | R$ 25,00 (meia) | R$ 15,00 (credencial plena) | Compre aqui
Classificação 14 anos

*Excepcionalmente 15/11 (feriado) o espetáculo será às 17h30

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Tadeu Ramos

Social Media e criador de conteúdo. Compartilho aqui conteúdos culturais, com destaque para a comunidade LGBTQIAPN+

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