Espetáculo sobre maternidade revela as distâncias entre laços de sangue e alma

Produção luso-brasileira com texto de Maria Adelaide Amaral e será apresentada no Teatro Sérgio Cardoso.

O jogo de afetos e confrontos que permeiam algumas relações maternas são o ponto de partida do espetáculo Mater, que estreia nos palcos paulistanos trazendo um olhar profundo sobre os desencontros familiares. A partir do texto Querida Mamãe, de Maria Adelaide Amaral, a adaptação propõe uma abordagem singular sobre as relações maternas. A montagem, da Companhia portuguesa Teatro Livre, estreia no Teatro Sérgio Cardoso.

A produção luso-brasileira dirigida por Beto Coville aborda os desencontros entre mãe e filha, explorando os silêncios, confrontos e tentativas de aproximação entre Luísa e Rute, interpretadas, respectivamente, por Carla Chambel e Luísa Ortigoso. Rute, ao revelar seu passado, tenta se aproximar da filha, enquanto Luísa, presa a suas próprias dores, hesita em acolher essa história que não lhe pertence.

Elenco de "Mater"
Foto: Daniel Fernandes

Durante oito movimentos, Mater constroi uma jornada emocional em que mãe e filha revisitam histórias, memórias e dívidas afetivas.

“Perdi a conta das vezes em que disse e repeti que jamais escreveria um texto tão ameno sobre a relação mãe e filha. A minha versão certamente estaria longe de ser uma relação delicada”, conta Maria Adelaide Amaral. A dramaturga explica que a peça surgiu após um mal-entendido, quando, nos anos 1980, fez uma edição da tradução de Ce tendres liens, da autora francesa Loleh Belon. “Foi assim que nasceu Querida Mamãe, no início dos anos 90, montada poucos anos depois por Eva Wilma e Eliane Giardini, com a direção de José Wilker”, relembra.

Sobre a adaptação para o teatro, Maria Adelaide elogia a força da encenação: “Infelizmente, não pude ir a Lisboa para assistir Mater, mas as imagens do espetáculo me deixaram maravilhada. E, pelas críticas que li e pelas impressões do público, tenho certeza de que é uma encenação forte do ponto de vista dramatúrgico e deslumbrante do ponto de vista visual.”

Elenco de "Mater"
Foto: Daniel Fernandes

A direção se afasta do realismo convencional e propõe um olhar simbólico e sensorial sobre os embates emocionais e reflete o quão importantes são os gestos que às vezes não fazemos. Mais do que um relato de conflito, a peça reflete sobre o desejo de pertencer, os laços que se rompem e a busca pelo afeto que, por vezes, se perde nas entrelinhas da convivência.

“A encenação busca materializar sentimentos muitas vezes não expressos. Aquilo que se gostaria de ouvir ou de ter dito, mas que é deixado passar por medo e insegurança, é concretizado aqui no espetáculo. Assim como a presença do inconsciente que vem buscar a verdade da relação, neste caso entre mãe e filha, que mesmo dolorida, é revista em forma de catarse”, conta o diretor Beto Coville.

“A peça fala de amor, saudade, resgate e superação, elementos essenciais para tentar resolver a difícil tarefa que nos foi imposta pelo universo, que é ‘sobreviver’ às nossas famílias”. Beto Coville ainda destaca que Mater não se limita ao drama familiar, mas mergulha no imaginário das personagens, dando vida ao que não foi dito: “Aquilo que se gostaria de ouvir ou de ter dito, mas que foi deixado passar por medo ou insegurança, é concretizado aqui no espetáculo.”

Elenco de "Mater"
Foto: Daniel Fernandes

O espetáculo convida o público a se reconhecer nas fragilidades e forças das personagens. Uma oportunidade à reflexão sobre as diferentes formas de amar e a complexidade dos laços que nos definem.

“A cena final é impactante e é onde o ponto de vista é mais claro. É onde as peças encaixam e as mudanças são compreendidas (ou não)”, comenta o Beto Coville. Para ele: “Cada um se revê naquilo que lhe toca e leva consigo os pontos e situações em que mais se identifica, pois as diferentes experiências vividas ao longo da peça chegam de forma distinta para cada pessoa. E são oito. Pelo menos as visíveis.”

Com apoio do Ministério da Cultura de Portugal, o espetáculo estreou em Lisboa, em 26 de janeiro de 2022, no Teatro Meridional. Agora, em parceria com a MIACENA – Mostra Internacional de Artes Cênicas para Espaços Não Convencionais, os produtores Dani Angelotti e André Acioli, junto à Companhia Teatro Livre, trazem a estreia do espetáculo no Brasil, viabilizada pelo programa de internacionalização do Ministério da Cultura, em parceria com a DGArtes e com o apoio da APAA – Associação Paulista dos Amigos da Arte.

FICHA TÉCNICA:

Texto: Maria Adelaide Amaral. Direção: Beto Coville. Elenco: Carla Chambel e Luísa Ortigoso. Cenografia: Eurico Lopes. Música Original: João Balão. Figurinos: Luísa Martins. Desenho de Luz: Pedro Santos. Assistência de Direção: Inês Oneto. Fotografia Cartaz: Sandra Cepinha. Fotografia de Cena: Daniel Fernandes. Produção BR: Cubo Produções. Assessoria de Imprensa BR: Adriana Balsanelli. Direção Técnica BR: Cleber Eli. Produção Executiva e Comunicação BR: Dairzey Abnara. Direção de Produção BR: Dani Angelotti e André Acioli. Realização: Companhia Teatro Livre & Miacena Conexões. Espetáculo apoiado pela República Portuguesa/DGArtes.

MATER

Elenco de "Mater"
Foto: Daniel Fernandes

Temporada: De 19 a 22 de Maio
Horário: Segunda, Terça e Quarta, às 19h | Quinta, às 20h30
Local: R. Rui Barbosa, 153 – Bela Vista
Ingressos: R$ 50,00 | Compre aqui
Duração: 90 minutos
Classificação: 14 anos
Capacidade: 149 lugares

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Tadeu Ramos

Social Media e criador de conteúdo. Compartilho aqui conteúdos culturais, com destaque para a comunidade LGBTQIAPN+

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