Entrevista realizada originalmente no dia 31 de maio de 2024
Que Mário Goes engata um trabalho no outro e dá conta de tocar tantos projetos bons ao mesmo tempo, isso não é novidade para quem o acompanha. Um criador inesgotável, ele está para estrear um novo espetáculo como ator pela Cia. Paradóxos ao mesmo tempo que está circulando com seus monólogos. Mas, ainda assim, Mário trouxe uma novidade quentinha para os nossos leitores: Agora ele foi convidado para dirigir o novo espetáculo da Meraki Cia. Teatral: “SENHORA DOS RESTOS”. Um monólogo protagonizado pela atriz Cleo Moraes. A atriz celebra seus 40 anos de carreira nesta nova parceria.
“Dirigir Cleo Moraes é uma alegria sem fim, pois é uma artista e amiga que sempre admirei pelo talento e disciplina. Que honra estar junto festejando uma data tão importante. Só quem é de teatro, sabe a importância que é celebrar cada ano nesse nosso ofício” afirma Mário, que além de dirigir o espetáculo, foi o responsável por apresentar o texto de Euler Lopes, dramaturga Sergipana, à Cleo Moraes, atriz do espetáculo.
Obviamente que fizemos algumas perguntinhas para o diretor, a dramaturga e para a atriz Cleo Moraes:
C.T.R. (Canal Tadeu Ramos) — Como surgiu a ideia dessa montagem?
Cleo M. — “A ideia da montagem surge quando compartilho com um amigo querido e artista que muito admiro: Mario Goes, sobre meu desejo de celebrar em cena, meus 40 anos de teatro. Conversamos também sobre o prazer que é o processo criativo, a troca na sala de ensaio… e alegria que seria vivenciarmos isso juntos. Pois, apesar de nos conhecermos há tempos, nunca havíamos trabalhado em um mesmo projeto. Eis que aí o Mário me lança um grande desafio, encarar pela primeira vez um monólogo. Aceitei a provocação com uma condição: que ele assumisse a direção do espetáculo. E na semana seguinte ele me apresentou esse belíssimo texto de Euler Lopes “Senhora dos Restos”.
C.T.R. (Canal Tadeu Ramos) — Qual a sua relação com o diretor desse espetáculo?
Euler L. — Conheci o Mário num cliclo de leituras dramáticas que ele promovia pela Cia. Paradóxos e foi contagiante encontrá-lo e sentir que somos do mesmo lugar, somos apaixonados por teatro. É uma felicidade ter um texto dirigido por alguém tão incrível e cujo trabalho acompanho, mesmo que de longe.
C.T.R. (Canal Tadeu Ramos) — Por que você escolheu esse texto para esse momento especial de 40 anos de carreira?
Cleo M. — O texto dialoga com as opções artísticas que fiz ao longo da minha vida. Compreendendo teatro, não somente como entretenimento, mas especialmente como instrumento estimulador para reflexão e luta por uma sociedade mais igualitária. A Euler tem uma escrita delicada e ao mesmo tempo mordaz, e sem abrir mão do aspecto poético, toca em temas espinhosos, valorosos e necessários como a miséria e desigualdade social. Dá visibilidade a uma população que vive a margem da sociedade. Nos presenteia com uma instigante e enigmática personagem, que ao revelar seu caminhar, propicia profundas reflexões acerca da condição humana.
C.T.R. (Canal Tadeu Ramos) — O que você espera dessa montagem?
Euler L. — Espero que o espetáculo faça a equipe feliz e promova o encontro com espectadores que reflitam sobre a nossa estrutura de sociedade. Que a montagem reverbere como reverberou aqui em Aracaju, em que é uma montagem que tem 10 anos e ainda segue atuante e que o publico tem muito carinho. Senhora dos Restos é um marco na minha trajetória e espero que seja aí também para todes os envolvides. Eu sempre acreditei no potencial de Senhora dos Restos. O texto nasceu da minha percepção na cidade de Aracaju, mas por ser uma pessoa em situação de rua, eu sempre confiei que ele podia falar com toda America Latina. Sempre que estou em São Paulo essa percepção sobre o que me fez escrever o texto se agiganta porque em São Paulo a miséria está mais exposta e de forma, talvez mais agressiva. Acho que o espetáculo tem muito a contribuir com o que vem acontecendo nos últimos anos e numa discussão sobre classes, pobreza e sobre que corpos são desprezados.
C.T.R. (Canal Tadeu Ramos) — Mário, como ator você já fez 3 monólogos, onde 2 foram premiados no Brasil e exterior e outro que é direção de Elias Andreato, (outro grande nome do teatro nacional e que ficou reconhecido também por fazer muitos monólogos), vale lembrar que na pandemia da Covid-19 você foi o 1° Artista em São Paulo a fazer espetáculos na varanda para vizinhos no formato de monólogo. E como diretor, quais as suas experiências nesse formato teatral?
Mário G. — Pois é, eu tenho sido procurado cada vez mais para escrever, dirigir ou atuar em monólogos de outros autores, e confesso que é difícil eu aceitar por que penso que a afinidade entre Direção e ator precisa ser muito grande neste formato, então preciso me identificar muito com o texto ou artistas que vou trabalhar. Mas o primeiro monólogo que dirigi foi em 2012/2013 com Alexia Twister em um texto meu, e que foi indicado à prêmio na época, já Dirigi um outro monólogo sobre heterônimos de Fernando Pessoa, já dirigi monólogo sobre gordofobia com a atriz Neila Camargo, e tantos outros. Ah, também já dirigi outros 2 monólogos que não chegaram a estrear (acontece rs). Mas de fato, por eu já ter feito muitos solos, e por assistir e ler muitos outros monólogos, tenho grande afinidade com essa relação do artista sozinho em cena. Confesso que acho o mais difícil formato teatral de se dirigir, até mais do que musical. Em “Senhora dos Restos”, colocamos na cena a vulnerabilidade social, econômica e pessoal, um texto que me arrebata em palavras e frases na sala de ensaio, fruto de uma escrita singular da Euler que sou fã, com uma estrutura cenográfica e de figurinos do “Dani” que me deixa sempre certo da beleza do resultado certeiro e tudo com uma atriz que dispensa comentários, Cleo Moraes é uma ATRIZ.
A montagem que iniciou o trabalho de estudos em Maio/2024, promete estrear ainda no 2° Semestre desse mesmo ano, e que com certeza, divulgaremos por aqui e estaremos presentes na estreia desse novo trabalho. Que além dos artistas entrevistados, conta com cenografia e figurinos de Daniel Infantini, outro artista importante e de trabalhos significativos no teatro paulistano.
De fato, “Senhora dos Restos” promete ser um verdadeiro Espetáculo.