A história e o legado de Benjamim de Oliveira (1870-1954), primeiro palhaço negro registrado na história brasileira e multiartista propagador do circo-teatro no começo do século XX, são os fios condutores do espetáculo “Na Lona de Benjamim”. A nova montagem do Coletivo Catappum!, que pesquisa desde 2015 a linguagem da palhaçaria preta, estreia no Teatro Paulo Eiró.
Com direção de Mafalda Pequenino e dramaturgia de Chico Vinicius e Fagner Saraiva, que estão em cena ao lado de Monique Salustiano, Jéssica Turbiani e Raquel Gandolfi, “Na Lona de Benjamim” não é um espetáculo biográfico, mas uma homenagem ao próprio multiartista e aos artistas negros da época.
No palco, uma trupe de palhaçaria que viaja no tempo/espaço remendando histórias do passado em busca da herança de Benjamim, encontra uma velha lona de circo, onde existe um morador desmemoriado que não lembra sobre a sua história, muito menos a de Benjamim. Com samba, músicas do congado mineiro, folias de reis, mágicas, números cômicos, teatro de revista, radio novela e melodrama, a trupe embarca nas memórias do circo-teatro brasileiro para combater o surto de desmemória aguda.
A diretora Mafalda Pequenino conta que colocou todo o elenco para cantar, dançar, tocar instrumentos, fazer palhaçaria, truques e números circenses e então atuar. “A minha direção vem nesse lugar de expansão, de trabalhar com essa multiplicidade, com a delicadeza de burilar cada linguagem mesclando com a arte circense e da palhaçaria e que trago para iluminar o picadeiro”.
Protagonismo preto

Contemplado com a 42ª edição do Edital de Fomento ao Teatro para Cidade de São Paulo, “Na Lona de Benjamim” refaz os passos do ancestral palhaço negro Benjamim de Oliveira, nascido em 1870, um ano antes da Lei do Ventre Livre, e que se alforriou da sua condição de escravizado fugindo com o circo, onde aprendeu a profissão de acrobata, trapezista e depois de palhaço.
Benjamim produziu mais de 100 obras escritas para circo-teatro, diversas chulas e lundus gravados nos primeiros discos de 78 rotações no Brasil, atuações no cinema, no circo-teatro e direções de diversos espetáculos, entre outras ações artísticas.
Para Chico Vinícius, ator e dramaturgo, o espetáculo usa a metáfora dos múltiplos trabalhos artísticos de Benjamim de Oliveira, para falar de memória e do protagonismo dos artistas negros. “O povo preto teve um apagamento histórico de suas narrativas e a ideia de “Na Lona de Benjamim” é resgatar esses personagens, pois ainda existem muitas histórias a serem contadas”, reflete ele.
A pesquisa para a criação do espetáculo contou com viagens para as cidades de Pará de Minas e Belo Horizonte, em Minas Gerais e Rio de Janeiro. Com um vasto material de entrevistas e documentos o Coletivo Catappum! produziu a websérie de três capítulos Caminhos Abertos de Benjamim de Oliveira, disponível no canal do YouTube do grupo.
“Estamos fazendo coisas que há quatro anos não seria possível. Hoje contamos uma potente história da palhaçaria preta que consolidou o circo-teatro brasileiro. Todo esse caminho de pesquisa, para homenagearmos Benjamim, foi muito instigante e quando chegamos na sala de ensaio, já estamos povoados de ideias e informações, o que é inspirador. Então minha direção começa antes, quando os estudos ganham campo, na busca por livros, entrevistados e informações. Quando decido seguir os passos de Benjamim eu já sei que direção seguir fora e dentro do palco”, reflete Mafalda Pequenino.
Repensando a figura do palhaço

Com uma direção de arte voltada a coroar a trajetória de Benjamim de Oliveira e a ancestralidade do povo negro, “Na Lona de Benjamim” repensa a figura do palhaço sem a visão eurocêntrica do nariz vermelho, das bolas e listras coloridas.
De acordo com o ator e dramaturgo Fagner Saraiva as cores dos figurinos e maquiagem foram pensadas para harmonizar com a pele negra trazendo ao palco uma paleta sépia (tons marrons, laranjas e avermelhados). “Iniciamos uma investigação sobre a máscara do palhaço preto considerando o colorismo, já que cada ator tem uma tonalidade diferente de pele. As perucas também são uma parte importante do visual e adotamos diferentes estilos, trazendo penteados afro e coloridos”, explica ele.
Ficha técnica:
Direção – Mafalda Pequenino. Dramaturgia – Chico Vinícius e Fagner Saraiva. Elenco – Chico Vinicius, Fagner Saraiva, Monique Salustiano, Jéssica Turbiani e Raquel Gandolfi. Assistentes de Direção – Chico Vinícius e Fagner Saraiva. Direção Musical, Arranjos e Sonoplastia – Di Ganzá. Músicos Intérpretes – Danilo Rocha, Cauê Silva e Monique Salustiano. Figurinista – Karine Lopes. Equipe de Figurino – Geny Ribeiro, Yas Santos, Bioncinha de Oliveira, Jeancely Castillo, Felipe Lara e Beatriz Ri. Cenário – Clau Carmo. Pintura de Arte – Alexandra Siqueira e Clau Carmo. Cenotécnico – Casa Malagueta. Visagismo e Maquiagem – Roberto Reis. Perucaria – Silva Rocha Penteados e Michele Barbosa. Iluminador – Rodrigo de Sousa. Técnico de Som – Adriano Almeida. Direção de Arte – Fagner Saraiva. Preparador Acrobático – Gui Awazu
Preparador Corporal – Ricardo Rodrigues. Preparadora de Canto e Voz – Glaucia Verena | Lab Voz. Preparadora Instrumental – Girlei Miranda. Social Mídia – Fagner Saraiva. Criador de Conteúdo para Redes Sociais – Bruno Sperança. Designer Gráfico – Marcos Fellipe. Contrarregras – Su Martins e Doug Vendramini. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Direção de Produção – Chico Vinicius. Assistente de Produção – Nathalia Mafort. Produção Executiva – Jean Salustiano.
NA LONA DE BENJAMIM

TEATRO PAULO EIRÓ
Temporada: De 30 de Janeiro a 09 de Fevereiro
Horário: Quinta a Sábado, às 21h | Domingo, às 19h
Local: Av. Adolfo Pinheiro, 765 – Santo Amaro
Ingressos: Gratuito
Duração: 90 min
Classificação: 14 anos
TEATRO ARTHUR AZEVEDO
Temporada: De 13 a 23 de Fevereiro
Horário: Quinta a Sábado, às 21h | Domingo, às 19h
Local: Av. Paes de Barros, 955 – Alto da Mooca
Ingressos: Gratuito
Duração: 90 min
Classificação: 14 anos
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