“Um Grito Parado No Ar” ganha nova montagem do Teatro do Osso

Com direção de Rogério Tarifa, espetáculo celebra os 52 anos da obra de Gianfrancesco Guarnieri

Uma nova versão de “Um Grito Parado no Ar”, clássico de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), estreia no Sesc Bom Retiro. Sob a direção de Rogério Tarifa e montagem do grupo Teatro do Osso, a obra revisita a icônica peça que reflete sobre os desafios da criação artística em tempos de censura e repressão. A dramaturgia, atualizada por Jonathan Silva, Rogério Tarifa e o Teatro do Osso, dialoga com o contexto contemporâneo, enquanto a encenação preserva o caráter crítico e metateatral que marcou a história do teatro brasileiro.

Gianfrancesco Guarnieri foi ator, diretor, dramaturgo e poeta italiano naturalizado brasileiro. Figura central do Teatro de Arena de São Paulo, Guarnieri marcou a dramaturgia nacional com textos que abordavam questões sociais e políticas. Entre suas obras mais significativas está Eles Não Usam Black-Tie, reconhecida como um marco do teatro brasileiro.

Elenco do espetáculo Um Grito Parado No Ar
Foto: Mauricio Bertoni

Escrito em 1973, durante a ditadura militar brasileira, Um Grito Parado no Ar se destacou por expor os desafios de se fazer arte em um contexto de repressão. Na adaptação de Tarifa, a obra preserva sua essência crítica e amplia o diálogo com o presente, conectando as questões sociais da época em que foi escrita, aos desafios culturais contemporâneos.

A narrativa acompanha um grupo de artistas que ensaia uma peça a dez dias de sua estreia. Enquanto pressões externas, como dívidas e restrições financeiras, ameaçam o andamento da produção, a trama reflete a precariedade e a persistência da arte em tempos complexos. Com improvisações baseadas em relatos reais de moradores da cidade, o espetáculo revela as tensões sociais e econômicas que permeiam o cotidiano, reafirmando o teatro como espaço de resistência e transformação.

O ato-espetáculo musical conta com a participação da atriz convidada Dulce Muniz, que interpreta a personagem Flora. O diretor Rogério Tarifa destaca que Dulce fez parte do Teatro Arena e da história do teatro brasileiro. O grupo costuma trabalhar com depoimentos de pessoas, e Dulce traz um olhar especial por ter vivenciado as duas épocas, 1973 e a atual.

Elenco do espetáculo Um Grito Parado No Ar
Foto: Mauricio Bertoni

“O espetáculo surgiu da colaboração entre meu trabalho e o Teatro do Osso, a partir de uma pesquisa sobre o Teatro Épico no Brasil, inspirada nas obras de Guarnieri. Realizamos um estudo aprofundado sobre esse período, coletando referências e realizando entrevistas com artistas da época. Fomos ao Rio de Janeiro e conversamos com Othon Bastos e Sonia Loureiro. Assim, a montagem representa um encontro entre a companhia Teatro do Osso e um Grito Parado no Ar, unindo características de 1973 e da atualidade, estabelecendo diálogos entre esses dois momentos”, comenta Tarifa.

A direção musical de William Guedes conta com músicas originais compostas por Jonathan Silva criadas especialmente para o espetáculo, enriquecendo a experiência e a conexão com o público. “Essa abordagem envolve algumas características essenciais, como a dramaturgia coletiva, a música ao vivo e as composições criadas especialmente para o espetáculo. Na nossa montagem, embora o texto tenha origem na dramaturgia de Guarnieri, incorporamos também toda a pesquisa necessária para a construção do espetáculo e desses elementos”, explica Tarifa.

Elenco do espetáculo Um Grito Parado No Ar
Foto: Mauricio Bertoni

Uma exposição virtual estará em exibição durante toda a temporada. Do Canto ao Grito – Um Estudo sobre o Teatro Épico no Brasil, reúne músicas, vídeos, documentos históricos e materiais desenvolvidos ao longo do processo criativo. A mostra enriquece a experiência do espetáculo ao ampliar debates sobre temas como censura, violência e desigualdade, reafirmando a relevância da obra de Guarnieri no diálogo entre passado e presente da sociedade brasileira. Visite em www.teatrodoosso.com.br

“As pesquisas duraram 6 anos, buscando compreender a prática artística contemporânea em relação à montagem de 1973. Quando ouvimos pela primeira vez o nome Um Grito Parado no Ar, isso nos provocou uma reflexão profunda. Quais gritos estão parados no ar? Seriam gritos negativos ou violentos? O título criado por Guarnieri, é muito preciso e realmente convida à reflexão” reflete Tarifa.

Junto ao elenco atua um coro, formado por oito integrantes, reunidos em cena como personificação da multiplicidade de experiências pessoais, éticas, estéticas e políticas. A proposta é trazer a pluralidade de vozes e experiências para contar o que é fazer teatro em 2025, numa convivência entre atrizes, atores e não atores, diferentes gerações, classes sociais, imigrantes, pessoas cis e pessoas trans.

Elenco do espetáculo Um Grito Parado No Ar
Foto: Mauricio Bertoni

A obra estreou há 52 anos, em um período de forte repressão política, e tornou-se um símbolo da resistência cultural. A frase “Nós vamos estrear nem que seja na marra!”, dita pelo personagem Fernando, ecoava como um manifesto dos artistas contra a censura. Hoje, o Teatro do Osso traz essa força para os palcos, reafirmando a importância do teatro como ferramenta de questionamento e crítica social.

Debate

Na quarta-feira, dia 12 de fevereiro, às 19h, acontece no teatro do Sesc Bom Retiro o debate Um Grito Parado no Ar de 1973 a 2025, com entrada gratuita. Na ocasião, Sônia Loureiro, atriz da montagem “Um Grito parado no ar” de 1973, se encontra com Renato Borghi, ator que junto a José Celso Martinez Corrêa e Amir Haddad fundou o Teatro Oficina em 1958, e Dulce Muniz, atriz do teatro de arena, para falar da montagem de 73, assim como da versão contemporânea, realizada pelo Teatro do Osso 52 anos após a montagem original. Falam também sobre teatro, representatividade, história e ditadura.

Ficha técnica:

Direção: Rogério Tarifa. Dramaturgia: Jonathan Silva, Rogério Tarifa e Teatro do Osso. Direção de Atores: Luis André Cherubim e Rogério Tarifa. Texto original: “Um Grito Parado no Ar”, de Gianfrancesco Guarnieri. Elenco: Guilherme Carrasco, Isadora Títto, Maria Loverra, Oswaldo Ribeiro Acalêo e Rubens Consulini. Atriz convidada: Dulce Muniz. Coro: Dan Nonato, Thiego Torres, Ísis Gonçalves, Marcela Reis, Nduduzo Siba, Rommaní Carvalho, Sofia Lemos e Wilma Elena. Direção musical e treinamento vocal: William Guedes. Composições originais: Jonathan Silva. Músicos: Gabriel Moreira, Felipe Chacon e Ju Vieira. Direção de movimento e treinamento: Marilda Alface. Direção de Arte: Rogério Tarifa. Cenário: Diego Dac e Rogério Tarifa. Figurino: Juliana Bertolini. Desenho de som: Duda Gomes. Produção Executiva: Carolina Henriques. Diretor de palco: Diego Dac. Técnico de Palco: Diego Leo. Técnico de Luz: Henrique Andrade. Técnico de som: Duda Gomes. VJ: Lui Cavalcante. Assistente de Produção: Julia Terron. Assistente figurino: VI Silva. Assessoria de imprensa: Adriana Balsanelli. Fotos: Mauricio Bertolin e Cacá Bernardes. Registro em vídeo e teaser: Carolina Romano. Designer gráfico: Fábio Vieira. Ilustração: Elifas Andreato. Realização: Teatro do Osso.Produção: Jessica Rodrigues Produções Artísticas. Direção de Produção: Jessica Rodrigues.

UM GRITO PARADO NO AR

Elenco do espetáculo Um Grito Parado No Ar
Foto: Mauricio Bertoni

Temporada: De 17 de Janeiro a 16 de Fevereiro
Horário: Sextas e Sábados, às 19h30 | Domingos, às 18h*
Local: Alameda Nothmann, 185 – Campos Elíseos
Ingressos: R$60,00 (Inteira) | R$30,00 (Meia) | R$18,00 (Credencial Plena) | Compre aqui
Capacidade: 291 lugares
Classificação: 14 anos
Duração: 2h30m (sem intervalo)

*Sessões com acessibilidade:
Audiodescrição: Dia 01 de Fevereiro, às 20h
Libras: Dia 02 de Fevereiro, às 18h

DEBATE: UM GRITO PARADO NO AR DE 1973 A 2025


(Com Renato Borghi, Dulce Muniz e Sônia Loureiro)

Dia: 12 de Fevereiro, às 19h.
Local: Alameda Nothmann, 185 – Campos Elíseos
Ingressos: Gratuito
Classificação: Livre

Mediação Rogerio Tarifa.

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Tadeu Ramos

Social Media e criador de conteúdo. Compartilho aqui conteúdos culturais, com destaque para a comunidade LGBTQIAPN+

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