“Catimba” montagem infantojuvenil da 2 Mililitros Cia. Teatral conta a história do Glorioso Grêmio Recreativo de Pirapora da Vila Pauliceia, que precisa decidir quem substituirá o craque do time, lesionado em uma partida: Mosquito, um garoto que odeia jogar futebol ou Leona, garota craque de bola. Com dois possíveis finais, o público decide quem entra em campo
Paixão nacional e presente direta ou indiretamente em todas as famílias brasileiras, o futebol é de verdade uma caixinha de surpresas. Tanto é que o esporte mundialmente conhecido acaba de virar tema do mais novo espetáculo infantojuvenil da 2 Mililitros Cia. Teatral. Sucesso de público com dois mil espectadores em 24 sessões, “Catimba” [A Reviravolta do Glorioso Grêmio Recreativo de Pirapora da Vila Pauliceia e Seu Elenco Incomum] volta à cena em apresentações no Sesc Pinheiros.
Com direção de Thiane Lavrador, dramaturgia de Fernanda Gama e direção musical de Lucas F. Paiva, que também está em cena ao lado de Henrique Reis, Júlia Mariano e Mariana Brasileiro, “Catimba” mostra a trajetória do Glorioso Grêmio Recreativo de Pirapora da Vila Pauliceia, um time de futebol de bairro que quer vencer pela primeira vez a importante Taça Pacopa.
Em “Catimba” , o glorioso Grêmio Recreativo de Pirapora da Vila Pauliceia passa por uma crise, pois no auge da competição da Taça Pacopa, Rosa (Lucas F. Paiva), o grande artilheiro do campeonato e craque do time, sofre uma falta criminosa que o tira de campo pelos próximos meses. O único que pode salvar a equipe é Mosquito (Henrique Reis), um garoto que não gosta de jogar futebol, e na linguagem futebolística é um verdadeiro perna-de-pau.
Mas nem tudo está perdido. Leona (Júlia Mariano), é uma das moradoras da Vila Pauliceia e acompanha todos os jogos, torce, arruma briga e ainda por cima é boa de drible. Ela é amiga inseparável da Debinha (Mariana Brasileiro), a irmã do Rosa, uma menina que também ama futebol e que cuida do time com muito carinho e atenção, mas nunca é reconhecida pelo que faz.
Às vésperas da final da Taça Pacopa, o Pirapora precisa convocar para a partida Mosquito, o garoto que odeia jogar futebol, ou Leona, a garota craque de bola. A escolha parece óbvia, mas o antiquado estatuto proíbe meninas de jogarem no time. A decisão caberá à torcida. Com dois possíveis finais, o público decide quem entra em campo.
Clichês do futebol e sem bola em campo
“Catimba” traz o universo do futebol para o palco com música ao vivo e instrumentos de uma torcida e aborda, sempre com ludicidade e bom humor, temas como machismo, amizade, coletividade, redes socias e diferenças.
Encenado ao ar livre, como em uma verdadeira partida de futebol, “Catimba” apresenta uma cenografia composta por uma lona enviesada com linhas que remetem às marcações de um campo, uma trave com a bandeira do time da Vila Pauliceia, um banco e vários instrumentos. Os figurinos trazem camisas de futebol estilizadas e, apesar das mesmas cores, são diferentes para cada personagem.
“Catimba” é dividido como um jogo de futebol, com primeiro e segundo tempo, prorrogação e decisão por pênaltis. Os clichês do famoso esporte também não podiam ficar fora de cena. Estão presentes a equipe de TV e seus narradores com seus bordões, os repórteres e suas entrevistas, os apitos, o banco de reservas, o bandeirão, o hino do time e a torcida barulhenta.
O único objeto que não está presente na montagem é a bola, uma opção da diretora Thiane Lavrador. “Trago uma série de elementos do universo do futebol para a cena, mas buscando fugir do óbvio. O banco de reservas e a bandeirinha, por exemplo, são ocupados por instrumentos e adereços. Uma bola nesta montagem não fazia sentido. Durante os ensaios foi ficando cada vez mais evidente que ela não era necessária e que podemos mostrar uma história totalmente voltada para o futebol sem ter uma bola. Desafiei a equipe para focarmos em outros componentes do ambiente futebolístico e conduzi os atores por um processo de criação focado na fisicalidade. O resultado ficou muito lúdico e divertido.”, adianta ela.
Imaginário coletivo
A ideia de falar sobre futebol em uma peça de teatro para jovens partiu de Júlia Mariano, que em “Catimba” dá vida a Leona. Fundadora da 2 Mililitros Cia. Teatral ao lado de Thiane Lavrador, a atriz deu os primeiros passos para que o projeto ganhasse os palcos. Júlia queria estar em cena e Thiane optou pela direção e as duas convidaram Fernanda Gama para a dramaturgia. Logo em seguida os atores Henrique Reis, Lucas F. Paiva e Mariana Brasileiro se juntaram ao projeto.
Thiane Lavrador conta que a equipe trabalhou de uma maneira bem colaborativa. “Tínhamos algumas referências que queríamos trazer de alguma forma para a montagem, como os livros O Pequeno País e Febre de Bola, de Nick Hornby e Fechado por Motivo de Futebol e Futebol ao Sol e à Sombra, de Eduardo Galeano, além de programas, filmes e documentários, como Minas do Futebol, que conta como um time de meninas foi campeão em um campeonato masculino, a Copa Moleque Travesso. Com isso, me debrucei em entender como o futebol faz parte do cotidiano do brasileiro e as referências do imaginário coletivo sobre esse esporte. Só assim, poderia trazer para a encenação a estética do futebol”, explica a diretora.
Já Fernanda Gama, que está no seu terceiro texto para o teatro infantojuvenil, revela que a linha dramatúrgica foi sendo escrita de acordo com os avanços na sala de ensaio, levando em conta a criatividade e a linguagem dos atores. “No começo, os atores faziam improvisações dos livros, dos filmes, dos textos que eram referência. Então, eu ia propondo mudanças a partir do que eles traziam, para que as personagens conversassem e as relações se aprofundassem, até chegar nessa versão final”.
A dramaturga também aponta a necessidade de haver mais espetáculos para o público adolescente. “Eu acho que é um público que tem muitas questões, interesses, muitas coisas borbulhando na cabeça. E um público bastante esquecido, tem muito pouco espetáculo para essa faixa etária. Então, escrever para esse público é contribuir para que possam ter mais acesso ao teatro”, pontua Fernanda Gama.
Ficha Técnica:
Direção – Thiane Lavrador. Dramaturgia – Fernanda Gama. Direção Musical e Trilha Sonora Original – Lucas F. Paiva. Elenco – Henrique Reis, Júlia Mariano, Lucas F. Paiva e Mariana Brasileiro. Figurinos – Karine Lopes. Visagismo – Tatiana Polistchuk. Cenário – Marília Scarabello. Assistente de Direção Cênica – Thiago Neves. Operadores de Som – Igor Souza e Humberto Vicente. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Redes Sociais – Lyvia Gamerc.
CATIMBA
Dias: 23 e 24 de Novembro
Horário: Sábado e Domingo, às 16h
Local: Praça – Rua Pais Leme, 195 – Pinheiros
Ingressos: Gratuito
Duração: 60 minutos
Classificação: Livre
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