Uma mulher de 40 e poucos anos precisa lidar com a morte da sua avó, a pessoa responsável pela sua criação. Este é o ponto de partida do monólogo gaúcho Velha D+, escrito por Fera Carvalho Leite, que está em cena, e Bob Bahlis, que também assina a direção. O trabalho faz três únicas e inéditas apresentações em São Paulo no Espaço de Provocação Cultural.
Essas sessões foram viabilizadas pela comunidade teatral paulista por meio da plataforma Platore para ajudar os artistas do Rio Grande do Sul atingidos pela enchente de maio deste ano.
“Ella está atordoada por ter sido chamada de velha na faculdade e por ter recebido fotos de seu marido tomando café com uma colega de trabalho bem mais jovem no mesmo dia em que ele pede e insiste para ter um filho”, conta Fera. Por isso, a protagonista decide ir até a casa da avó em busca de um refúgio e de um momento de autoconexão.
Esse retorno ao passado possibilita o encontro dela com sua alma ancestral e seu espírito jovem e selvagem, em uma busca por sua identidade e pela bênção de ser quem ela é. É como um ritual, uma cura, um movimento para dentro de si para então seguir adiante melhor, mais livre e mais feliz.
Concepção da montagem
Inspirados por Clarissa Pinkola Estés (Ciranda das Mulheres Sábias), Naomi Wolf (O Mito da Beleza), Anne Kaupf (Como Envelhecer), Miriam Goldenberg (A Invenção de Uma Bela Velhice), Epicuro e Madonna, Bob e Fera construíram um texto para discutir as pressões sociais e culturais que recaem sobre a mulher em termos de maternidade, status social e etarismo.
“Eu e o Bob entramos na casa dos 50 anos e temos uns 30 anos de carreira. Na pesquisa inicial, ele investigava o envelhecimento nos dois gêneros, mas percebeu o quanto para a mulher envelhecer é muito mais cruel. Além disso, o contexto da pandemia potencializou a agonia da sensação de ‘estarmos perdendo tempo de vida’ quando ela se aproxima do fim. E, a partir disso, fomos mergulhando nesse assunto em leituras, vídeos, conversas até criar o espetáculo”, detalha Fera.
“NÃO!!! A liberdade da mulher na verdade começou há milhares de anos quando a primeira mulher rompeu o ciclo do ritual de acasalamento, disse NÃO à cópula, e fugiu pra floresta e… menstruou… passou a ter TPM, ficou mais feroz, se ligou nos ciclos lunares, conheceu as ervas que podiam agir a seu favor, passou a se proteger e se defender sozinha… Essa foi a primeira revolução feminina. O Não à procriação. A mulher aprendeu a dizer não por todas as vezes que o sim lhe aprisionou.” Trecho da peça Velha D+
Para contar essa história, os artistas optaram por uma cenografia funcional que remetesse diretamente a uma casa de vó, com direito a poltrona, luminária, mesa, altar, chá e fotografias. “Para o figurino, escolhemos um vestido verde escuro, maleável para livre movimentação e fácil de vestir para a troca da cena da Madonna, em que uso a típica meia arrastão e espartilho”, comenta a atriz.
Como Fera é bailarina e atriz, a dança está bastante presente no trabalho. Ao mesmo tempo, a artista manifestou o desejo de cantar em cena. “Trabalhei a voz com a Adriana Deffenti, uma cantora e atriz gaúcha que adoro, e com a fonoaudióloga Ligia Motta para aperfeiçoar essa passagem da voz falada (jovem e velha) e da voz cantada. Passei a ouvir muitas músicas que falam desse lugar de mulher, de dores, conflitos, de prazeres, escolhas. Assim, me cerquei de vozes que traduzem poeticamente as transições necessárias entre uma cena e outra, como Mariana Volker, Mallu Magalhães e Flaira Ferro”, acrescenta.
A peça celebra três anos em cartaz e mais de 110 apresentações com grande sucesso de público. Já foram realizadas temporadas em Porto Alegre (RS), Canoas (RS), Unah Piracanga (Bahia), Ilha do Papagaio (SC), Praias de Atlântida e Torres (RS), Caxias do Sul (RS), Bom Princípio (RS) e Santa Cruz do Sul (RS). Velha D+ foi contemplada no Edital Fumproarte, realizando oito apresentações nos abrigos de acolhimento aos refugiados da enchente do RS em Porto Alegre.
Por conta do movimento solidário da plataforma Platore, São Paulo recebe quatro apresentações do espetáculo – uma delas é fechada e acontece na abertura do 3º Congresso da ACBR (Associação Brasileira de Análise do Comportamento) no Centro Cultural Camargo Guarnieri, na USP – Universidade de São Paulo que tem como tema Diversidade, Equidade e Inclusão e conta com o apoio do Grupo Método, Skills, TatuTEA, Casa Três e Grupo Contingência.
Ficha Técnica
Texto: Bob Bahlis e Fera Carvalho Leite
Direção: Bob Bahlis
Atriz: Fera Carvalho Leite
Trilha sonora: Rodrigo Fernandez
Figurino e cenário: Fera Carvalho Leite
Iluminação SP: Luci Oliveira
Identidade visual: Lui Felippe
Fotos: Vilmar Carvalho e Sandra Pilla
Direção de produção: Fera Carvalho Leite
VELHA D+
Temporada: Dias 22, 23 e 24 de Novembro
Horário: Sexta e Sábado, às 21h | Domingo, às 19h
Local: R. Bento de Abreu, 151 – Vila Romana
Ingresso: R$ 80,00 (inteira) | R$ 40,00 (meia) | Compre aqui
Duração: 75 minutos
Classificação: 12 anos
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